8 de junho de 2010

América Latina compra 47% dos maquinários brasileiros; EUA, 16%

Há tempos que eu não publicava algo sobre o comércio exterior brasileiro. Aproveitando que a imprensa desta terça-feira está bem generosa na divulgação dos números do PIB, eu faço uma visita surpresa ao banco de dados Alice, para ver como andam as exportações.

Editei abaixo três tabelas. Na primeira, uma lista dos 15 principais grupos de produtos exportados pelo Brasil. Eu falo "grupo" de produtos, e não apenas "produtos", porque cada um dos itens comporta imensa gama de artigos variados. 

Do primeiro item de exportação, o petróleo, não tem graça falar. Não por enquanto. Ele merecerá um estudo à parte. Os minérios, segundo item mais exportado, são aquilo: mesmo com aumento dos preços do ferro, o Brasil vende uma tonelada por 58 dólares. O Brasil privatizou a Vale para reduzir o "peso do Estado", e agora, por ironia da história, vendemos ferro bruto para estatais chinesas a preço de banana, e essas mesmas estatais agora estão comprando ações da Vale e construindo refinarias no Brasil para aumentar os seus lucros. Estatal brasileira não serve; estatal chinesa póóóde.

No fundo, tudo foi uma grande estupidez. Setores que necessitam de aportes gigantescos de capital, como siderurgia, sempre tiveram forte participação estatal. O radicalismo ideológico do governo FHC, aliados a motivos menos transparentes, não os permitiu ver isso e o Brasil lançou ao mar um de seus maiores tesouros, de importância estratégica para qualquer país. Alemanha e França perderam trilhões de dólares e milhões de vidas humanas na luta pelo controle de jazidas de ferro. O Brasil entregou suas minas, as maiores do planeta, por 1 bilhão de dólares em moedas podres, e tudo financiado pelo BNDES.

Em seguida, no ranking de nossas exportações, vem o grupo carnes, onde temos um grande mercado no oriente médio, que importa sobretudo o frango brasileiro. Quando alguém perguntar, portanto, qual o interesse econômico do Brasil nos imbróglios nucleares & políticos daquela região, você pode responder com a singeleza de um matuto esperto e prático: é o frango, uai!

O quarto item na lista dos produtos mais importantes exportados pelo Brasil são autopeças, vendidas majoritariamente para América Latina e Caribe, com destaque para Argentina.

Depois temos a soja, exportada principalmente para China e Europa.

No seu devido tempo, iremos analisar cada um desses produtos e cada um desses mercados. Hoje eu trago um breve estudo sobre o sexto item mais importante de nossa pauta de exportações: maquinários. Trata-se do grupo de número 54, que inclui todo o tipo de maquinário, desde ventiladores até reatores nucleares. O Brasil também exporta eletrônicos (celulares, vídeo-cassetes, dvds, tvs, computadores). A diferença entre maquinários e eletrônicos é que os primeiros são produtos com motor.

O Brasil exportou 3,11 bilhões de maquinários em Jan/Abr deste ano, aumento de 26% sobre igual período do ano anterior. É interessante observar que a exportação brasileira de maquinários já superou a de açúcar, café e madeira. A participação dos manufaturados na exportação brasileira vem crescendo, ao contrário do que dizem setores da imprensa. Entretanto, como as exportações de petróleo, sobretudo, e minério de ferro, em segundo plano, cresceram em ritmo alucinante, na esteira da demanda explosiva da China, o crescimento das vendas de manufaturados ficou abafado.

Pois bem, agora observem a terceira tabela publicada nesse post. Quem é o principal comprador dos maquinários brasileiros?

Ela mesma, aquela que deveria ser considerada nossa maior amiga: Argentina. A maior compradora de nossos manufaturados. E não é só isso. Dentre o extenso grupo de manufaturados vendidos pelo Brasil, a Argentina compra os mais caros, o que tem maior valor agregado.

Enquanto os EUA pagaram 5,6 mil dólares, em média, pela tonelada de maquinário brasileiro, a Argentina pagou mais de 11 mil dólares.

Enquanto as exportações brasileiras de maquinários para os EUA cresceram apenas 8,7%, no primeiro quadrimestre do ano, o crescimento nas vendas para Argentina saltaram 58% no mesmo período.

Na segunda tabela, repare que a América Latina & Caribe importou 47% de todos os maquinários exportados pelo Brasil. Apenas o Mercosul comprou 22%, contra uma participação de 20% da União Européia, e 16% dos EUA. A poderosa China importou somente 2,4% de nosso maquinário.

E agora, senhores editorialistas do Estadão, ainda querem declarar guerra à Argentina só porque um funcionário de lá impôs restrições a importação de meia dúzia de biscoitinhos brasileiros?










Lista completa dos produtos exportados pelo Brasil no primeiro quadrimestre (Jan/Abr) de 2010.

3 comentarios

Thiago disse...

Boa avaliação, bicho.
Eu, que não tenho nenhuma formação em relações internacionais ou coisa do tipo, mas tento botar os dois neurônios pra funcionar nas horas vagas, vejo bem a correlação direta entre comércio exterior e política externa do governo, que você já colocou tão bem.
Brabo é que, contra a má vontade da direita, não existe dado irrefutável que sirva.

Miguel do Rosário disse...

E faltou fazer tantas observações. Reparem, por exemplo, que a Bolívia importa mais maquinários que o Reino Unido.

Avelino disse...

Caro Miguel
Quando você comenta sobre a exportação de máquinas do Brasil?Quantas são nacionais?Essa é a indústria de bens de capital nacional falando?
Saudações

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