30 de junho de 2010

Uma boa exposição, abertura na quinta-feira


Eu escrevi o texto de abertura, que é esse:

Santa Pelada: FUTEBOL-ARTE-CERVEJA

Incendiaram-se os recibos, as contas não pagas, os beijos, a vida chutada a gol, qual jabulani enfurecida, mulher ciumenta, o amor, e todas as canções bregas ouvidas no bar, a morena e sua história, o flerte... e o futebol festejado, bebido e vomitado, a morena de novo que saltita e o desejo de abraçá-la, beijá-la. É Copa do Mundo e os nervos floresceram sobre a pele, estamos eufóricos como quem chora. Toquem as vuvuzelas! Quer dizer, morte às vuvuzelas! Abatam a tiros os tocadores de vuvuzela! O que é o futebol? Seria o socialismo liderado por jabulanis autoritários? O anarquismo dos garrinchas bêbados? A monarquia do rei Pelé? Oh, sagrado Jesus da bola, dê-me inspiração para driblar os russos e acertar no ângulo superior da vida.

A doçura machucada das estrelas e do céu, gargarejava o Poeta, a boca cheia de absinto e restos de haxixe entre os dentes, projeta-se no abismo em flor. Reluz, lá embaixo, um verde infernal, e tecemos, lentamente, a angústia de perder um pênalti.

De onde vem a ginga, o drible, a manha, que nos faz tão bons de bola? Está na alma, no clima, na melodia? Nos beijos apenas sonhados? Na riqueza abstrata, nunca vista? Na morena que torcia para o Flamengo e não sabia meu nome?

Após o jogo, as cervejas, a liberdade, o sol faiscando sobre nossa (fatal) incompetência, vinte e dois rimbauds e suas ambições continuamente esmagadas, rolando até ferir-se, pela areia da praia de Ramos, tão suja quanto um coração apaixonado.

O futebol, enfim, é o Brasil das utopias fragmentadas, individualistas, fumadas como craque em decadêcia. Aos poucos, vamos retornando, todos, da Europa, saudosos de nossas favelas, armas, tem do preto tem do branco, adrianos inconsequentes, é isso, e o dunga severo, paternal, lúcido, burro, que nos leva à mediocridade, à vitória, Milão e Barcelona.

Jabulani, teu nome é Brasil, Luis Fabiano, o cão sem plumas, tanta cerveja, tanta, que transborda em arte, peladas, amizade, ladeiras e trocadilhos.

O rio Tejo, portanto, desagua na Guanabara. Tudo que sonho ou passo, dizia Pessoa, o que me falha ou finda, é como um terraço, sobre outra coisa ainda. Essa coisa (a bola, o bar do Gomes, a morena rubronegra) é que é linda.

1 comentário

augusto disse...

Rosario, hoje ou estas com muita raiva de algo ou nirvanado estás, nalgum sitio pela ai acima do bem e do mal.Tem cara que escreve melhor quando esta prostituto da vida.
Gostei de ler e reler.

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