(...) Ainda assim, devido ao forte ritmo da economia e à valorização cambial, a dívida líquida do setor público continua em queda em relação ao Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), indicando situação fiscal confortável para o país a curto e médio prazos, mas mantendo o sinal de alerta.
Apesar de o endividamento ter crescido entre abril e maio, passando de R$ 1,370 trilhão para R$ 1,371 trilhão, a relação dívida/PIB caiu de 41,8% a 41,4% e deve chegar a 41,1% em junho, segundo o BC. Principal indicador da solvência do país, essa relação vem caindo ao longo dos anos e em 2010.
Em dezembro era de 42,8% do PIB e deve ficar abaixo de 40% no fim do ano.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, lembrou que a retração nos últimos meses foi considerável.
Ele citou as economias industriais do planeta, cujo endividamento deve crescer entre 2009 e 2010: — A trajetória da dívida é benigna, mostra retração ao longo do tempo. Sazonalmente os números são ruins, mas a dívida se mostra sob controle.
(...) Augustin frisou que os investimentos federais pegaram carona no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Em maio, somaram R$ 4 bilhões, e em 2010, R$ 16,7 bilhões, alta de 80% sobre maio de 2009 — 58% reais (descontada a inflação).
— (investimento) é uma despesa que queremos ter — disse ele.
Os repasses mais fortes da União para estados e municípios se explicam pela alta da arrecadação de tributos partilhados, como o IPI. O secretário ressaltou que o comportamento dos gastos com pessoal é positivo pois embora haja alta nominal de 8,5% de janeiro a maio de 2010, a queda real é de 4,6%. Para Augustin, as contas estão equilibradas e, por isso, agências de risco como a Fitch têm feito relatórios com análise positivas do país: — No Brasil temos visto analistas enxergando dificuldades fiscais. Nós sempre dissemos que isso não existe.
Maravilha, não? A dívida líquida percentual sobre o PIB está caindo. Mesmos os gastos com pessoal, motivo de tanto alarde na mídia, registraram queda real este ano.
Entretanto, reparem na manchete mimosa:
Quanta sensibilidade social, não é? Um incauto poderia acusar o Globo de fazer terrorismo econômico, de manipular as notícias, tudo com objetivo de arranhar a imagem do governo e, com isso, prejudicar a candidatura de Dilma Rousseff. Mas o pasquim de Kamel nunca faria isso.
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Sarcasmos à parte, os platinados já definiram uma estratégia: atacar os gastos públicos. Para eles, quem está certo é Serra, que faz economia em cima do leite das crianças. E (os platinados) não tem pudor de tratar seus leitores como imbecis. É evidente que os gastos nominais irão crescer. É a lei da vida. O bicho cresce, tem que comer mais. Se o país cresce, aumentam as demandas por investimentos, educação, saúde, infra-estrutura. Ali Kamel quer engessar o Estado? O que importa é a relação percentual dos gastos com o PIB. A relação dívida com o PIB. Esses índices estão caindo, ou seja, a dívida líquida brasileira vem caindo ano a ano.
É muito ridículo o Globo (quem começou isso foi a Miriam Leitão) transformar a dívida bruta num grande problema. O importante é a dívida líquida. O Brasil tem dívida bruta aqui, mas crédito acolá. Se eu tenho uma dívida de cinco mil reais no Banco do Brasil mas um saldo positivo de dez mil reais na Caixa, a troco de que vou me desesperar?
Como é possível dar uma manchete dessa com base num dado sazonal, incompleto, descontextualizado de uma conjuntura altamente favorável? A razão de ser da manchete é que o superávit primário de maio ficou em R$ 1,430 bilhão, o menor para o mês em 18 anos. Mas isso é normal, porque o superávit do mês anterior havia sido enorme. Não é assim que se faz uma análise econômica. Deve-se dessazonalizar o gráfico, para evitar levar em consideração as bruscas variações mensais, que resultam de inúmeros fatores, como pagamento de décimo terceiro do funcionalismo, vencimento de algum papel mais importante da dívida pública, compensação por um superávit excessivo no mês anterior, etc.
Além do mais, o jornal não deu destaque ao aumento brutal nos investimentos do governo:
A mídia vive protestando contra o baixo índice de investimento do Brasil, em relação a outros países, mas quando este registra um aumento efetivo, faz-se um silêncio mortal sobre o assunto.
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Fui no site do Ministério da Fazenda, e constatei que, de fato, o Globo manipulou um dado sazonal, temporário. O déficit do resultado primário e maio acontece após um superávit monstruoso em abril, de maneira que, no acumulado do ano, o superávit das contas públicas vai muito bem obrigado.
(...)No acumulado do ano (janeiro a maio), o Governo Central registrou superávit de R$ 24,2 bilhões, superior em R$ 5,1 bilhões ao apurado no mesmo período de 2009. O resultado em doze meses, equivalente a 1,34% do PIB ou R$ 44,5 bilhões. Conforme o secretário do Tesouro, demonstra uma tendência positiva de retorno aos níveis primários positivos de anos anteriores.
A meta para o quadrimestre é de superávit de R$ 40 bilhões e até maio foram realizados R$ 24,9 bilhões. “O resultado está dentro da expectativa de cumprir o primário cheio, de 3,3% do PIB em 2010, sem abatimento do PPI (Projeto Piloto de Investimento) ou Fundo Soberano”, observou Arno Augustin.
Em maio, a Previdência teve déficit de R$ 2,6 bilhões (ante R$ 3 bilhões em abril), sendo que a área urbana foi superavitária em 800 milhões. “No nosso entendimento, a Previdência tem ido de forma adequada”, disse Augustin.
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O terrorismo do Globo já assustou mais, quando a economia brasileira passava por um momento realmente delicado, em função do agravamento da crise internacional. A imprensa, na época, apostou todas as suas fichas numa crise avassaladora que destruísse a popularidade de Lula e minasse qualquer possibilidade do presidente eleger um sucessor.
Agora, todavia, com a economia a todo vapor, a bomba de Kamel não me parece tão efetiva. A pólvora está molhada.
Miguel,
Postei esse artigo no blog da Faculdade Pinheiro Guimarães pros futuros jornalistas debaterem o jornalixmo que o globo faz.
Para verificar: http://redefpg.ning.com/profiles/blogs/globo-tenta-fazer-terrorismo
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