Globo come cru

Assim que viu o prato na mesa, O Globo, previsivelmente, atacou-o com afobação e entusiasmo. Nesta quinta-feira, manchetão, coluna de Merval Pereira e editorial parecem falar com a boca cheia de comida, felizes com a derrota do Brasil e a vitória americana. Mas, como diz o senador Mão Santa, atentai bem! Atentai bem! Os EUA obtiveram uma triste e ridícula vitória de Pirro - expressão que usei anteontem e que foi parar ontem na boca do presidente Lula, atento leitor deste blog (tô brincando, essa é uma expressão comum, foi coincidência). Queimaram cacife político para aprovar sanções meia-boca, consideradas por grande parte da comunidade internacional como contraproducentes e, diante dos últimos acontecimentos envolvendo Israel, hipócritas.

A opinião pública brasileira, tirando os eternos ranhetas, aquela turminha que mora no Canadá e passa o dia a escrever cartinhas esculhambando o Brasil, além, naturalmente, do Ferreira Gullar, Jabor e Merval, continua apoiando a diplomacia tupi. No próprio Globo, não puderam esconder a avalanche de cartas furiosas com a arrogância do Tio Sam.

Ao devorarem o lanche tão apressadamente, quase sem mastigar, os platinados correm risco de sofrerem uma indigestão. Assistindo ao Jornal da Globo ontem, foi engraçado ver a Cristiane Pelajo comentando a votação da ONU e depois passando a palavra para o William Waack. Dava para ver que ele, por trás de sua cara de enterro, estava fazendo um enorme esforço para não xingar Lula por mais essa "trapalhada". Mas ele tinha que comentar a Copa do Mundo e tentar sorrir - o que não conseguiu.

Entretanto, Jorge Pontual, correspondente do Globo em Nova York, nos informou que os EUA não conseguiram aprovar medidas fortes contra o Irã, por conta da China e Rússia, que não queriam afetar seus negócios com o país, e votaram com nítida má vontade, reclamando. Pontual observa ainda que, diante do provável fracasso das sanções, os EUA deverão acabar por seguir o caminho apontado por Brasil e Turquia. Alguém que já trabalhou em filmes pornôs e hoje é alto executivo na empresa, deve ter se engasgado ao ouvir isso.

Merval Pereira, de lambuja, diz que Lula deve mesmo ganhar o Nobel da Paz, mas fala de um jeito como se tratasse de um premiozinho vagabundo que será dado ao presidente só porque ele foi pobre. Sei não, acho que Merval, assim que terminou de escrever a coluna, correu para o banheiro. Comer depressa faz mal.