15 de junho de 2010

O derretimento de uma candidatura

Engraçado ver o Aécio gritando ao microfone, durante o lançamento da candidatura Serra, em Salvador:



Deve ser implicância minha, mas não vi nenhuma sinceridade na pretensa "emoção" de Aécio. Sabe o que me lembrou? Uns tipos com aspirações políticas - mas sem talento para tal - que eu conheci na faculdade. Quando tinha alguma convenção, eles se agarravam ao microfone e usavam esse tom supostamente "engajado", qual um Ricardo III insuflando ânimo a seu exército. O resultado era ridículo, sobretudo quando não havia razão para tamanho entusiasmo. Soava falso. E até dava uma certa pena. A gente quase vê aquela energia escorrendo pela boca da pessoa, disperdiçando-se, indo pro ralo.

Não digo que Aécio não tenha talento. Deve ter, sim. Mas que essa intervenção me lembrou aqueles tipinhos, ah, lembrou.

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Depois de Noblat, ontem, entregar os pontos em sua coluna do Globo (claro que mordendo o Lula, para manter o emprego), desta vez é Fernando De Barros e Silva, que publica um textinho lacrimejante e derrotista sobre a candidatura Serra.

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O balão do dossiê está quase vazio hoje. Editorial da Folha tenta agarrá-lo, enquanto rodopia no ar, fazendo barulho e deixando vazar o conteúdo mal cheiroso. Não consegue. Nenhum outro jornal dá continuidade à matéria. Apenas registram que o próprio PT deu entrada na Justiça para investigar quem vazou dados fiscais de Eduardo Jorge.

Mas a blogosfera já desvendou. O próprio Eduardo Jorge abriu seus dados em 2009, numa tentativa de se defender de acusações que sofria no Ministério Público.

O editorial da Folha fala em "equipe de inteligência" que "começava a ser montada". Decidam-se. Se fizeram um dossiê, então já estava montada e operante. O mais ridículo é imaginar, contudo, que uma "equipe de inteligência" de Dilma iria fuçar dados fiscais de um tucano desconhecido, um ato sem nenhum objetivo concreto. E que, depois de fazer algo tão idiota, ainda iriam chamar a imprensa e contar tudo. A Folha parece desesperada e estar perdendo sua racionalidade. Esse tipo de dossiê, evidentemente, apenas visa atingir Dilma Rousseff. Se é assim, como poderia ter sido produzido por "uma equipe de inteligência" da petista?

O jornal lembra os aloprados de 2006. A mídia serrista está repassando, todos os dias, fatos antigos. Eles não percebem que, se o PT deu uma surra em seu adversário quando as notícias eram quentes, porque acham que o eleitorado irá dar bola para esse tipo de armação que não tem relação direta nenhuma com a candidata. O caso dos aloprados de 2006, além disso, foi outra armação que ainda precisa ser explicada. Lula prometeu que, fora do governo, irá conduzir investigações pessoais dessas armações "petistas" que só prejudicavam o próprio PT.

Ah, Miriam Leitão, no Globo, aborda o assunto, comparando-o a Watergate, que derrubou Nixon... O texto de Miriam é pesadíssimo. Fala em "delinquência política", "cavar a cova da própria democracia", "ameaçar a democracia", "solapar a democracia". Diz que o "Brasil não tem mais um presidente, tem um chefe político em campanha incessante". É tanto latido que dá impressão que esse cão não morde mais.

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Enquanto isso, na tucanolândia, ouve-se uma barulheira danada: líder do DEM afirma que irá apoiar Mercadante porque "São Paulo não precisa de um gerente. Precisa de alguém com capacidade de administração e sensibilidade. Basta olhar o governo de Lula para saber como será o governo de Mercadante".

Pô, o PSDB já tem poucos aliados. Os poucos que tem começam a debandar e fazer elogios ao PT. É a famosa fuga do navio cujo casco apresenta vazamento.

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E o Estadão volta à velha forma. O editorial de hoje recupera seu estilo barroco. Não pude evitar uma certa nostalgia de tempos antigos que não vivi, o início do século, quando Coelho Neto praticava textos similares, com mais adjetivos que substantivos. Mais tarde, esse estilo seria massacrado por estetas cruéis como Lima Barreto, Machadão e Graciliano Ramos. Mas lendo o Estadão, podemos sentir o perfume de outrora, tempo de bondes puxados a burro e atrizes francesas mostrando as pernas nos cabarés.

3 comentarios

Adir disse...

No caso do Aécio acho que é aquela farinha bahiana, quanto aos editoriais do Estadinho, sei que os atuais são engembrados por um tal de NeuMané Pinto!

Anônimo disse...

Miguel,

O dono do 'textinho' cravou "com Serra, parece mais um funeral". E eu me pergunto: quando no puleiro dos tucanos o clima foi além de funéreo? Qual o humor desta turma? Quem parece descontraído, a vontade, sorridente, gargalhador, de bem com a vida (não estou falando de dinheiro), feliz mesmo?

Aliás, tucano nenhum tem 'barroquinhas'no rosto... As vezes eu penso que eles nem tem músculos para esticar a boca num belo sorriso...

jader resende disse...

Na verdade não entendi nada, me lembra locutor de rodeio que não gosto ( de rodeio )e não entendo bulhufas.

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