O que mais me revolta neste caso do Irã é ver tudo se repetir. Aplicam-se sanções que irritam as autoridades de um país. O dano econômico atinge a população civil. O governo se fecha. A democracia perde. Ao mesmo tempo, cria-se uma onda de nacionalismo. A proibição do comércio internacional incentiva o contrabando. Os próprios países ocidentais que assinam as sanções vendem armas por baixo dos panos.
É show de hipocrisia. A opinião pública mundial não tem tempo de ler trocentos blogs para saber realmente o que está acontecendo. A grande maioria acredita na primeira matéria que lê nos jornais. Escreve-se que as sanções ocorreram porque o Irã não quer interromper o seu programa nuclear, e ao mesmo tempo a Rússia afirma que irá continuar participando da construção de novas usinas no país.
Quanto ao isolamento do Brasil, temos outra falácia. Quem está isolado é o Conselho de Segurança da ONU, que não mais representa a comunidade internacional. De qualquer forma, durante anos os EUA vetaram sanções contra Israel, em sessões onde se posicionava de maneira isolada contra todos os outros países. Pior, os EUA violaram as leis internacionais e sabotaram a ONU quando invadiram o Iraque sem o aval do Conselho de Segurança.
Quem mentiu mais?
Quem matou mais?
Os jornais brasileiros todos consideram que é um absurdo o Brasil ter, pela primeira vez, assumido uma posição independente. Antes, o máximo que o Brasil fazia era se abster, uma atitude no mínimo acovardada.
O posicionamento de Brasil e Turquia, firmes contra as sanções, lavou a alma do mundo emergente. Não dá para saber se o Brasil se credencia politicamente com isso para assumir uma vaga no Conselho de Segurança. Moralmente, porém, é indiscutível que a atitude brasileira foi motivo de orgulho de todos os países do chamado terceiro mundo, que não tem vaga no Conselho e também não aprovam a estratégia americana de botar o Irã contra a parede.
O aspecto positivo dessa história é a oportunidade dada ao Brasil de assumir uma posição independente, que conta seguramente com milhões de adeptos dentro do próprio EUA. E também nos deu a chance de conhecer melhor quem é José Serra.
Depois das afirmações de Serra sobre o Mercosul, Bolívia e Irã, é uma heresia inconcebível dizer que um governo Serra não seria muito diferente de um governo Dilma. Serra não tem noção do que é ser um estadista. Ele ataca ad hominem. E tem atacado Ahmadinejad. A violência do governo iraniano não é uma característica especial do governo Ahmadinejad. É uma característica milenar da sociedade persa, onde qualquer tipo de crime ou subversão costumam ser punidos de maneira terrível. A violência lá é genuinamente monopólio do Estado. Em compensação, não há criminalidade.
Serra, além disso, presta um enorme desserviço à educação política das pessoas quando o compara a ditadores do quilate de Stálin ou Hitler. Na Alemanha nazista, não havia eleições e a oposição não se manifestava nas ruas. Hitler queria dominar o mundo. Os aiatolás querem ficar quietos no canto deles. Stálin manteve enormes campos de concentração, os famigerados gulags, para onde enviava legiões de presos políticos. O Irã enforcou, se não me engano, um ou dois opositores. E não me venham com moralismo católico de que não importa se é um ou um milhão. Importa sim! Além disso, os EUA patrocinam a dissidência política do país.
Na verdade, o governo Ahmadinejad pode ser uma droga: violento, autoritário e conservador. Não há provas, todavia, de que o governo da oposição seria melhor. Quiçá fosse ainda mais violento, ainda mais autoritário, ainda mais conservador. Talvez fosse imensamente corrupto.
Chávez era acusado de ser antidemocrático pela oposição. Pois bem. Quando houve o golpe de 2002, o empresário Pedro Carmona, líder golpista, decretou o fechamento de todas as instituições democráticas do país: o Congresso e o Supremo Tribunal de Justiça foram o primeiros. A pergunta que se deve fazer é: se Chávez é realmente um péssimo presidente, em vários sentidos, o que nos faz pensar que um presidente da oposição será melhor?
*
As sanções preparam o terreno para uma guerra. Os EUA precisam de um pretexto. Os exércitos americanos cercaram o Irã por todos os lados: Afeganistão, Iraque, ex-colônias soviéticas, e os persas é que provocam?
12 de junho de 2010
Sanções da ONU abrem caminho para guerra
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