5 de junho de 2010

Clipping Comentado do Sábado

De volta ao batente, amigos. Para começar, um clipping básico, através de links, acompanhado de alguns comentários.

  1. Associação Brasileira de Imprensa (ABI) : jornalistas acusam governo colombiano de censura.

    Ué, Chávez não era venezuelano? A notícia revela uma realidade brutal e esquizóide. Jornalistas antigoverno são abatidos como cães na Colômbia há anos, e em Honduras desde a posse de Porfírio Lobo, mas a mídia brasileira considera que é na Venezuela que a liberdade de imprensa corre risco.
  2. Campanha de Dilma convidou araponga para fazer dossiês.

    A mídia brasileira fez outra excelente incursão na crítica de arte. Em pauta, uma obra-prima do expressionismo abstrato. O escândalo fantasma. Arapongas que nunca trabalharam. Dossiês que nunca existiram. Prossegue o esforço serrista para desmontar a estrutura de comunicação de Dilma Rousseff. O jornalista Luiz Lanzetta não serve para coordenador de imprensa. A função apenas seria desempenhada a contento pelo arcanjo Gabriel. Ou então algum tucano, de preferência ex-jornalista da Rede Globo. A pergunta que fica no ar é: qual o problema em contratar uma equipe de inteligência? Depois que soubemos que Daniel Dantas mandou grampear a cúpula do governo Lula, eu acho que é uma medida perfeitamente cabível contratar alguém para fazer a varredura dos canais de comunicação utilizados. Isso se chama autodefesa. Veja e seus comparsas na mídia querem criminalizar a real politik. Diante dos colossais interesses econômicos que se movem, terríveis e silenciosos (mas nunca inocentes!),  por trás da campanha presidencial deste ano, espero que Dilma, Lanzetta, Pimentel e  a direção do PT não caiam nessa armadilha. Tem que se precaver sim! Tem que zelar minuciosamente pela segurança das informações. Para isso, é preciso, obviamente, contratar profissionais. A esta altura, o Serra deve ter uns duzentos arapongas trabalhando para ele. A prova disso é que Lanzetta não pode sequer convidar um profissional especializado para jantar que a mídia já recebe, no dia seguinte, um relatório completo sobre o que ele e seu convidado comeram, quem pagou a conta, que horas saíram, o que foi conversado, o valor da oferta, o valor da contraoferta, se foi aceita, se não foi aceita. As informações vieram de petistas descontentes querendo enfiar empresas amigas no staff, traidores infiltrados, ou através de pura espionagem; mas tudo é resultado de trabalho profissional. Os arapongas de Serra, além de fuçar cada milímetro da vida profissional, amorosa, política, de Dilma Rousseff, atrás de qualquer fato que a prejudique, devem igualmente sondar o nível de descontentamento & lealdade de toda pessoa envolvida na campanha petista. Como diz o vulgo, o dinheiro compra tudo e os valores mobilizados nestas eleições certamente servirão para o ressurgimento de petistas magoados. Esse escândalo feérico serviu para demonstrar a necessidade de unificar e consolidar o comando da campanha petista. Se os inimigos de Dilma querem derrubar Lanzetta é porque o cabra é bom.
  3. Não é dossiê. Soubemos, através do Conversa Afiada, que o documento contendo informações não muito abonadoras para o governador José Serra é um livro, cujo autor tem CPF, endereço fixo, passaporte, título de eleitor e carteira profissional de jornalista.
  4. Descobri, lá na página da ABI, um site novo de opinião e notícias. É o Página 64.
  5. Por falar na ABI, leia reportagem, na página 35 do jornal da entidade, sobre a "Rede da Democracia", uma espécie de Instituto Millenium dos anos 60, um sistema formado pelos principais jornais brasileiros para desestabilizar o governo Jango. O presidente da ABI, Maurício Azedo, compara a atuação da imprensa da época aos jornais de hoje.
  6. Vox Populi traz boas notícias para Dilma. Entre o eleitorado que sabe quem é o candidato apoiado por Lula, a petista abre 19 pontos de vantagem sobre seu adversário. 
*

Nessas minhas pequenas férias, um assunto rendeu espaço na mídia. Apesar de atrasado, vale a pena retomá-lo, até porque ele é sempre pertinente. O Globo fez uns gráficos legais (clique para ampliar & ver por inteiro):



A mídia caiu em cima de Lula por causa de um comentário seu acerca de países com carga tributária excessivamente baixa. É curioso que o gráfico do Globo sobre o peso dos impostos na América Latina não chancela a visão apocalíptica que a imprensa fez. Brasil e Argentina, as economias mais importantes da America do Sul, tem cargas similares, de 35% e 30%, respectivamente. 

Entretanto, há um fator importante na carga tributária do Brasil, responsável pelo aumento de quase 10 pontos percentuais observado nos últimos 15 anos, que foi a universalização da previdência. Com a implantação da aposentadoria rural, o país incorporou à previdência dezenas de milhões de brasileiros, salvando-os da miséria e salvando o país de um colapso social. 

A elevação da carga tributária dos últimos anos, portanto, é também o preço que o país paga pela catástrofe social, revertido enfim em quase desastre econômico, gerados pela ditadura militar e pelos governos conservadores que lhe sucederam.

Um leitor me mandou uma carta bastante informativa sobre o tema, com uma entrevista do ex-ministro Adib Jatene, que nos dá uma visão bem menos conservadora a que estamos acostumados. Ele explica que o Brasil optou por um modelo de sociedade mais justa, com universalização das aposentadorias (o que não ocorre na China), do ensino público e da saúde (como na Europa). Os serviços de saúde não são bons, mas são universais, e a saída certamente não é o estrangulamento financeiro do setor e sim o seu aperfeiçoamento constante. 

A tendência do governo não é aumentar a carga tributária, mas estabilizá-la nos patamares atuais. O que o setor da saúde pede, todavia, é a criação de um imposto exclusivo, que não representaria mais do que 0,1% da renda de cada brasileiro, e permitiria a criação de serviços de saúde de melhor qualidade para todos. 

6 comentarios

luiz henrique disse...

Caro Miguel, quanto a carga tributária os 5% mencionados por vc como sendo pouco, versus Argentina, equivaleriam a US$ 80 bilhões a mais por ano no bolso dos brasileiros. Algo como duas vezes o PIB do Uruguai.
Ademais, a natureza dos impostos no Brasil que incorrem pesadamente sobre o consumo versus a renda, acabam punindo os mais pobres, posto que consomem mais bens comparativamente a sua renda.
Um bom exemplo é o celular, apontado como vitima da privatização, com custos absurdos. Porem, metade deste custo provem de impostos.
Outro ponto desastroso e pouco comentado do "case" brasileiro, é quanto custa às empresas controlar, apurar e pagar dezenas de impostos.
Pelo grafico q vc corretamente colocou, todos os governos pós democratização
aumentaram impostos.
Realmente não há monopólio na falta de bom senso.
Atc
Luiz Henrique

Miguel do Rosário disse...

Você tem razão, Luis. 5% não é pouco. O assunto é complexo demais e eu não expus minha opinião sobre ele. Eu não sou a favor de impostos altos ou de carga tributária à la norte da europa para o Brasil. Para mim, o Brasil devia se esforçar para estabilizar a carga em torno de 30%, ou ainda um pouco menos, e modernizar o imposto de renda. Tenho uma idéia maluca de extinguir o imposto de renda e o imposto da folha salarial, e transferir todo o imposto para a circulação bancária e o consumo.

jozahfa disse...

Miguel, é importante, também, uma pesquisa comparativa sobre as cargas tributárias em economias há mais tempo estáveis, como as europeias, e suas relações com as respectivas políticas sociais. Sobremaneira pela estabilidade, que permite a condução das políticas públicas de forma menos vinculada às variações dos grupos ocupantes do poder. Lembro-me agora de ter lido (há tempos) que o IR na Suécia era de mais de 50% sobre a renda bruta.
Mas que a gente precisa de uma reforma tributária, ah, precisa sim. Em especial a permuta por impostos que, na incidência, considerem a renda do contribuinte, como o da extinta CPMF, que não deveria ter sido extinta e muito menos ser provisória em minha opinião. Para desagradar um pouco mais às elites.

Luiz Henrique disse...

Miguel, de fato complicado. Minha "receita" seria aumentar o IR e diminuir os impostos incidentes sobre o consumo e emprego. Eu seria o primeiro a ter que pagar mais IR sobre salario, mas a economia, nivel de emprego, acesso de todos aos bens de consumo seriam beneficiados, o que acaba voltando de alguma forma para o individuo.
Mas realmente é um assunto que desperta emoções fortes só os especialistas podem se arriscar.
Abs
Luiz

Miguel do Rosário disse...

Sabe o que é, Luiz. O imposto de renda incita a sonegação e a evasão, e criminaliza a renda. Além disso, é muito complicado e burocrático e invasivo.

Um imposto tipo a CPMF sobre a circulação financeira, associado à proibição expressa do uso de dinheiro vivo sem prévia autorização, permitiram um dinamismo fiscal muito maior.

O problema do imposto de renda é que eu pago sobre o que eu ganhei no ano anterior, de forma que, se no ano seguinte, eu não tiver mais dinheiro, eu tô lascado. Acho isso atrasado. Tem que pegar o dinheiro que eu tenho HOJE, e não que eu tive ontem. A gente nunca sabe o que vai pagar de imposto de renda. É um mistério constante que atrapalha o planejamento e a liberdade.

Na realidade, é uma questão puramente teminológica. O imposto sobre a circulação financeira seria, na prática, um imposto sobre a renda. Muito mais eficiente. Eu saberia que, de todo meu dinheiro no banco, 0,1%, ou 0,4% iriam para os impostos. Eu poderia me preparar melhor para aquilo.

Anônimo disse...

Nao precisavamos ter uma carga tributaria tao alta,se parte do que é arrecadado,nao fosse enviado pra paraisos fiscais,por essa quadrilha que atualmente ocupa o senado e o congresso!É
preciso falzer uma desratizacao,ai sim,poderemos ter bons serviços publicos e uma carga tributaria menor!!!

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