23 de setembro de 2010

Bom senso eleitoral

Um leitor perguntou-me se eu tinha mais dados sobre as acusações de tráfico de influência na Casa Civil, sobretudo por parte dos cinco demitidos recentemente. Um ou mais deles teria inclusive confessado que recebeu dinheiro. Admiti que não sabia muita coisa. As informações são confusas e contraditórias. O que é confissão, se lido atentamente, não passa às vezes de uma história de segunda ou terceira mão: fulano ouviu sicrano falar isso e aquilo. Somos bombardeados diariamente com notícias desencontradas, verdades mescladas à exageros, ilações e mentiras. No dia seguinte, há um show de desmentidos que, no entanto, são esnobados pelos colunistas, que passam a trabalhar apenas em cima das versões, como se estas correspondessem à verdade última. Esse momento, portanto, não é adequado para entendermos os eventuais problemas de corrupção no governo.

De uma coisa, porém, estamos certos. O governo federal tem corrupção, assim como tem os governos estaduais e municipais e todas as assembléidas legislativas. Estatísticas recentes informam que a PF prende ou autua diariamente funcionários públicos acusados de algum tipo de ilícito. Essa é uma batalha constante, e a corrupção costuma ser bastante democrática e conquistar políticos (e seus filhos e parentes) de todas as legendas. O PT tinha menos corrupção no passado porque era um partido menor com muito menos acesso ao poder. Mas é injusto considerá-lo mais corrupto do que outros, até porque os estudos estatísticos mais carimbados, dizem o contrário. Já cansei de publicar aqui o ranking dos partidos que tiveram mais políticos cassados por causa de algum ilícito grave; DEM e PSDB figuram entre os três primeiros. O PT está lá embaixo na lista.

É muito desgastante ler matérias compridas lastreadas unicamente no que disse a revista Veja, e constatar apenas no dia seguinte ou às vezes dias depois de que há vários pontos contraditórios ou mesmo falsos e que não apontam para as conclusões forçadas que as reportagens procuram estabelecer.

Quanto à demissão, nem sempre ela significa admissão de culpa. Em muitos casos, demite-se o suspeito para que ele não atrapalhe as investigações, ou para que tenha tempo de se defender, etc. Em virtude da agressividade com que as pessoas são atacadas na imprensa, chega a ser engraçado que se pretenda que elas, mesmo inocentes, tenham condições psicológicas de continuar trabalhando.

Então minha posição é essa. Nunca entrei nessa esparrela de achar que o PT era o partido da ética. Mas também não posso embarcar no golpismo moralista da mídia, que a pouco mais de dez dias das eleições passou a dar voz a qualquer celerado com algum ressentimento pessoal contra o governo.

Denúncias de corrupção só tem importância eleitoral se estiverem ligadas diretamente à campanha; em caso contrário, tornam-se denuncismo vazio e má fé jornalística. Com perdão aos moralistas, corrupção tem em toda parte, todo dia, em todas as cidades; é um mal terrível a ser combatido pelos órgãos competentes. Os fatos devem ser investigados, como estão sendo, sem a interferência das paixões políticas. O que está em jogo no Brasil não é o "por fora" que alguns garotos supostamente podem ter recebido na Casa Civil, e sim um projeto para mudar um país que há séculos marginaliza impiedosamente a maior parte da população. Se erraram, os garotos devem ser presos. Mas seria o cúmulo da injustiça coroar um mal feito com outro maior. Se alguns ratinhos invadiram o galinheiro, a solução não é entregar a gerência do mesmo às raposas.

Preparem-se portanto para a baixaria. Tampem o nariz e vamos a luta.

4 comentarios

Clique aqui para ler o texto na íntegra disse...

Gente, isso é sério, o Gilmar Mendes, mandou a Vale pro saco.

Isso é grave, mais de 50 empresas e quase 1 milhão de hectars de terra foram dadas de graça por FHC aos larápios.

O patrimônio da Vale não foi avaliado na privataria. Por isso Serra tem tanto medo do livro do Amaury, que conta a roubalheira da privataria.

O preço pelo qual a Vale foi entregue por FHC equivale a alguns navios da companhia naquele momento, sendo que o imenso patrimônio da companhia não foi avaliado, e o pior de tudo, sob os tucanos o BNDES virou balcão de negócios espúrios para que o Brasil fosse retalhado e entregue ao Deus-Mercado tucano-demo.

Não podemos deixar esta agente tomar de assalto novamente o nosso País, eles querem fazer com o pre-sal o mesmo que fizeram com a Vale. Isso é muito sério, pois está em jogo o nosso destino.

Temos a obrigação de sair do nosso aconchego e sair para às ruas, conversar com as pessoas, nossos vizinhos, colegas de trabalho e perguntar o que eles estão achando destas eleições, pois somente assim para percebermos a influência que a velha mídia está tendo sobre o processo eleitoral e esclarecermos as coisas.

Ontem conversando com o porteiro aqui do prédio ele me disse que não iria voltar na Dilma porque ela havia sido cassada "3 meses atrás". Perguntei onde ele havia visto isso, se no programa do Serra ou na programação de TV e ele me disse que havia saído na programação normal da TV.

Em seguida tive uma longa conversa com ele, foi quando percebi que ele havia sido influenciado por esta campanha diária da velha mídia contra Dilma.

Gente, se quisermos ver Dilma eleita temos que sair às ruas, levem isso ao conhecimento do eleitor, vejam só o que o presidente fez com os processos relativos à doação da Vele por FHC. Não podemos deixar isso em branco, a velha mídia não escreveu uma só linha sobre o assunto.

O artigo é do Vermelho:

Gilmar Mendes susta ações judiciais contra privatização da Vale

Numa decisão unipessoal, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu o andamento de dezenas de ações que visavam anular a privatização da Companhia Vale do Rio Doce. A decisão atende um pedido da empresa, hoje um poderoso grupo privado.



http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=137608&id_secao=1

Anônimo disse...

Eu quis dizer "vejam só o que o ex-presidente do STF fez com os processos relativos à doação da Vale"

D

Adriano Matos disse...

Concordo, Miguel. É minha opinião também que canalha tem em toda parte, assim como gente honesta.

E concordo também com a estratégia tácita que vc delineia nesse post: Nesse momento eleitoral, avaliar denúncias que não envolvam diretamente a equipe de campanha é uma grande perda de tempo. Há interesses poderosos estão em jogo nesse momento que obscurece a visão da floresta pra se concentrar nas ervas daninhas.

A floresta em questão é um projeto vitorioso do governo Lula que terá continuidade no governo Dilma. Esse projeto retirou da linha de pobreza 24Milhões de brasileiros e é isso o mais importante.

Sérgio Vianna disse...

Muito boa avaliação Miguel, esta sobre o que está em jogo. E separando bem o joio do trigo, admitir que a corrupção é uma endemia humana, para enxergarmos o que se deve levar em conta neste momento. Talvez escancarar um pouco mais o aviso de que depois das eleições, se votarmos errado por acreditar em mentiras, o conserto só em quatro anos, ou mais. Entretanto, se há confiança nas instituições (Polícia Federal, CGU, Ministério Público e etc.), poderemos ver apuradas todas as denúncias, se falsas ou verdadeiras, em poucos meses. Sem trauma e sem correr o risco de eleger a raposa para gerir o galinheiro. E tenho certeza que as denúncias não vão apontar o que a mídia criou de factóides nestes últimos meses.

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