21 de setembro de 2010

A última luta contra a ditadura

(Esse é o texto que escrevi, a pedidos, para a galera do RioBlogProg, a edição regional dos Blogueiros Progressistas).


A julgar pelos editoriais, a imprensa brasileira se acha uma vítima trêmula e indefesa, pronta para ser devorada pelo bicho papão totalitário. Claro que há o constrangimento de ter apoiado a ditadura, contra o mesmo bicho papão, mas se ele (o papão) não existia antes e mesmo assim justificou-se um golpe de Estado, não é tão difícil inventar novamente o mesmo inimigo; dessa vez não exatamente para dar um golpe, mas algo mais fácil, como queimar um candidato e eleger outro. Considerando que esses jornais transformaram-se em poderosos conglomerados econômicos à sombra do regime militar, pode-se especular que nossa batalha contra os desmandos desses grupos consiste na última luta dos brasileiros contra o fascismo que pendurou nossa liberdade e nossas esperanças, por vinte longos anos, num pau de arara.

Como empresas privadas, os jornais têm liberdade para defender ou atacar seja quem for, mas a Constituição ficaria grata se evitassem desrespeitar o direito dos indivíduos à honra e à privacidade e, sobretudo, se se esforçassem em conter seus ódios pessoais e tratassem as instituições democráticas e seus representantes com um mínimo de decoro e respeito. Não pedimos isenção. Ao contrário, pedimos honestidade em declarar sua preferência partidária, como fazem os jornais norte-americanos, o que ajudaria os leitores a separar notícia de opinião e entender melhor o que estão lendo.

Conhecemos a imprensa de outros países e francamente não observamos em lugar nenhum do mundo (com exceção dos EUA, onde imprensa deixa bem claro de que lado está) um engajamento partidário tão enlouquecido e agressivo como vemos no Brasil.

A imprensa de fato tornou-se um quarto poder, mas à diferença dos outros poderes, goza de uma liberdade quase selvagem. Pode incentivar as pessoas a tomarem remédios que não precisam, espalhar informações falsas sobre partidos, destruir a reputação de inocentes, pressionar juízes a emitir ordens de prisão (ou de habeas corpus), desestabilizar governos... E quando setores da sociedade, como as associações de medicina, por exemplo, iniciam debates para criar leis que regulamentem o uso de informações sobre saúde, os grupos de mídia não apenas se recusam a dialogar como lançam pesadas acusações contra os que desejam o debate. Eles se pretendem intocáveis. A liberdade de imprensa converte-se, portanto, em objeto de luxo de uso exclusivo de meia dúzia de proprietários de jornais e tv.

Não temos ilusão quanto aos defeitos de nossa classe política e seus representantes, mas também não nos iludimos quanto à perseguição seletiva praticada por uma imprensa desde sempre identificada com ideais conservadores - e portanto com os partidos afinados com esses ideais.

Protestamos, em suma, contra hábitos sinistros que estão se arraigando em nossa imprensa, como fazer acusações sem provas e prejulgar pessoas e instituições de maneira açodada, desrespeitando o princípio da presunção da inocência. Com seu poder, a mídia consegue intimidar inclusive juízes, produzindo outra aberração contra a democracia, que é obstruir o direito de todo cidadão ou empresa de ter um julgamento isento e livre, longe das paixões políticas.

Protestamos, principalmente, contra a tentativa de interferir no processo eleitoral, através da criação de factóides que vão parar diretamente, às vezes no mesmo dia, na página de alguns candidatos. Denúncias devem ser feitas, claro, mas embasadas num mínimo de provas e fundamentos lógicos. Os escândalos que pipocam não nascem da intenção louvável de aprimorar o funcionamento da máquina pública, e sim do desejo mal disfarçado de produzir estragos políticos no adversário da vez.

Enfim, quando vemos a mídia engajada em campanhas partidárias, e ainda lançando suspeitas de que há forças querendo censurá-la ou silenciá-la (o que é mentira); e, para culminar, participando de seminários no Clube Militar, como o que deverá acontecer dia 23 de setembro deste ano, intitulado "Democracia Ameaçada", muitos cidadãos começam a se questionar, preocupados, se haveria alguém imaginando um golpe, seja um violento, com uso de armas, seja um "pacífico", como fizeram em Honduras no ano passado, onde o presidente eleito, após decisão do Supremo Tribunal Federal (convertido assim num poder quase monárquico, acima da soberania popular), foi preso pelo exército e conduzido para fora do país. Todos, incluindo o golpe contra Chávez, em 2002, tem algo em comum: a cumplicidade entre oposição conservadora e corporações midiáticas.

Falamos apenas dos jornais. Quanto à mídia televisiva, os fatos são muito mais graves, porque são concessionárias de serviço público, e há leis que proibem a veiculação de material entendido como propaganda partidária.

Quando chamamos a imprensa de golpista, portanto, referimo-nos não só a seu papel fundamental na preparação do golpe de 64 e na consolidação política do regime militar, como também no esforço constante, até hoje, para derrubar ou eleger governantes a partir de artifícios nada éticos de manipulação da notícia.

Reiteramos nosso apreço pela liberdade de imprensa e de expressão, mas observamos que estas liberdades não são direitos exclusivos dos donos de jornal: elas também valem para o leitor, que não deve ser enganado; e para o jornalista, que deve ter direito a trabalhar sem se submeter aos caprichos ideológicos do patrão.

Por fim, convidamos a todos a se libertarem do vício triste de pensar com a cabeça alheia, e a conhecerem a blogosfera política, onde se trata a informação com muito mais profundidade: ela é verificada, checada, conferida novamente, revirada de todos os lados, discutida, rechaçada, e de novo aceita; e onde, principalmente, respeita-se a inteligência do leitor e procura-se fazer com que ele a use efetivamente, pensando politicamente por si mesmo.

Somos os representantes da edição fluminense de uma articulação nacional, os Blogueiros Progressistas, ou seja, de esquerda, e nossa luta mais importante, nas últimas semanas, tem sido desmontar as manipulações midiáticas que visam confundir e influenciar o eleitorado, deturpando a vontade popular.

9 comentarios

D disse...

A organização sempre funciona, não da para agirmos de forma dispersa,cada estado tem que se organizar para ser receptor da indignação das pessoas contra a velha midia e seu boneco de ventriloquo

Grato,
D

Anônimo disse...

Miguel, e simples querer calar a imprensa, basta ver como FHC tratou a revista Carta Capital no Governo dele, o LULA ainda é bonzinho com a Veja, Folha etc.... procure saber com o Mino, como foi esse tratamento

Anônimo disse...

Bravo Miguel!!

Unknown disse...

Miguel,

acabo de repassar para 60 amigos meus esse seu artigo, com um pedido para acessarem o seu blog:

"A FSP de hoje no artigo “Leitores aprovam cobertura da Folha sobre acusações” http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po2209201024.htm (reproduzo ao final para os que não conseguirem acessar o jornal), talvez inadvertidamente, mostra que a percepção do seu universo de eleitores é diametralmente oposta as pesquisas realizadas pelo seu Instituto Datafolha.

O que estaria acontecendo? Porque a tática denuncista não vem funcionando a contento (pelo menos até agora enquanto a “bala de prata” definitiva via televisão no dia anterior à eleição não é mostrada)? Porque atinge somente parcela da opinião pública, a que se relaciona diretamente com ela?

Evidentemente existem razões maiores que esta, mas acredito que a blogosfera (o que o candidato de oposição chama de “blogs sujos”, como se a sujeira fosse de um só lado) tem o seu peso. Ela é o contraponto ao que é publicado ou transmitido pela assim chamada “grande imprensa”, a mídia em geral.

Repasso abaixo o texto do Blog Óleo do Diabo http://oleododiabo.blogspot.com/ do Miguel do Rosário, escritor, blogueiro, crítico de arte, jornalista e tradutor. Ele reproduz e comenta notícias relacionadas à política e nesta quadra, principalmente, às eleições. E pratica a democracia e liberdade de imprensa, não aquela sob a estrita ótica dos grandes grupos midiáticos, mas aquela que esta nova forma de comunicação QUE É A DO FUTURO, permite: a expressão de cada um. A imprensa de tipos móveis promoveu uma revolução nas mentes a partir do século XVI: a blogosfera também promoverá a partir deste século XXI?.

Dê uma chance a você mesmo, leia o e-mail abaixo, para concordar ou discordar.

Marcos disse...

Todo esse blá, blá blá aí, não encontrei muito sentido, pois ataca a imprensa de um modo geral, relacionando com o período militar, porém deixa de lado os fatos que geraram toda essa questão, constituindo assim apenas uma estratégia para desviar o pensamento dos fatos centrais, os escândalos na Casa Civil iniciados com o José Dirceu. E que coincidência: mais uma vez os Correios...

Anônimo disse...

Se a imprensa defende interesses próprios, não vejo diferença para com os senhores que também o fazem e aí? Penso que, como população, temos capacidade de discernimento e não precisamos de salvadores. Se os fatos noticiados são falsos porque as pessoas estão pedindo afastamento dos cargos? O governo Lulla é um grande manancial de maracutáias, que ele aprendeu nos anos ociosos de sindicato.

Anônimo disse...

Mais uma: Namorada de filho de Erenice também tem cargo no governo.

Miguel do Rosário disse...

E a filha do Serra?

Meg disse...

Adorei o artigo! Parabéns!
Acabei de receber de um amigo e já vou passar adiante...
Abraco!

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