Então o genro do homem também teve seu sigilo quebrado, através do mesmo "contador" e através do mesmo processo, uma procuração falsa. O Estadão deu sorte. Testou a hipótese e acertou. Até então, a informação que tínhamos é que apenas os dados cadastrais do genro de Serra haviam sido acessados.
O que não se entende é porque o governo, tendo "aparelhado" a Receita, precisaria usar uma procuração falsa e um desequilibrado como esse Artella, se podia simplesmente pedir uma senha para qualquer petista obediente e acessar os dados fiscais dos parentes de Serra. Ah, já sei. Para não dar bandeira. Para não deixar rastros. Pode ser. No entanto, não acho verossímil que a campanha de Dilma, ultraprofissional, possa ter pensado que prejudicaria Serra exibindo (com perdão da palavra) a própria bunda, visto que a divulgação de dados sigilosos de parentes de um adversário político seria contabilizada obviamente na conta do governo, que tem obrigação de guardar essas informações. Essa é a maior contradição. Quem está faturando politicamente com essa história? Quem está sendo prejudicado?
Nos últimos dias, páginas inteiras dos principais jornais do país vem repletas de acusações pesadíssimas contra Dilma e o PT. São ofensas e prejulgamentos às pencas, vocalizados por membros da oposição e também por colunistas. As cartas publicadas nas edições impressas completam o serviço, com manifestações violentas contra a ministra, o governo e o Partido dos Trabalhadores.
Especialistas, porém, tem afirmado que o assunto não deve causar grandes mudanças no quadro eleitoral, em vista de se tratar de um assunto complexo, e não se encontrou até agora nenhum indício concreto de que dirigentes do PT, muito menos da campanha, estejam envolvidos. Trata-se de um caso policial. De qualquer forma, coincidência ou não, Dilma perdeu 3 pontos no tracking do Vox Populi, e Serra ganhou um. O placar agora está em 53% a 22%.
É preciso entender ainda que, mesmo que encontrassem a digital de algum aloprado petista (bota aloprado nisso, além de bandido) capaz de fazer algo assim, este deveria ser preso, condenado severamente (tanto juridicamente, pela Justiça, como moralmente, pelo PT), mas se trataria de crime comum. O terrorismo da mídia e da oposição, que tem assustado - com razão - muita gente, é querer transformá-lo num crime eleitoral e com isso cassar a candidatura de Dilma Rousseff, seja antes seja depois do pleito.
Entretanto, um crime eleitoral apenas se configuraria se os ministros do TSE entendessem que o fato tivesse favorecido o criminoso. Ou seja, se Dilma estivesse perdendo e, após divulgar os dados fiscais da filha de Serra (e supondo que há podres inomináveis ali), registrasse um salto nas pesquisas de intenção de voto.
Até agora, temos o contrário. O tucano José Serra tem proferido calúnias e prejulgamentos sistemáticos, o que é crime, com vistas a faturar votos. Isso sim é crime eleitoral.
A quebra de sigilo é um crime grave, mas o que os espertinhos da mídia fingem não entender é que um crime infinitamente maior é violar a vontade do povo, através da manipulação midiática. Crime muito pior é desestabilizar o governo e as instituições às vésperas do processo eleitoral, através de ações inconsequentes, como foi a de ingressar no TSE pedindo a cassação da candidatura de Dilma Rousseff. Isso se chama litigância de má fé, e como se trata da questão mais crucial, e mais tensa, numa democracia, a eleição presidencial, configura-se um imperdoável atentado aos interesses nacionais. É golpismo.
Queremos que as autoridades investiguem e prendam todos que tenham desrespeitado a Constituição e violado o sigilo fiscal de cidadãos brasileiros, mas não venham pôr suas mãos sujas sobre a democracia e o processo eleitoral. Xinguem Lula, xinguem Dilma, façam o que quiserem, mas deixem as eleições transcorrerem sem sobressaltos institucionais.
Além disso, temos percebido que os telejornais encontraram um artifício para trabalharem em favor de seu candidato. Visto que o assunto "sigilo" tem um viés negativo para Dilma Rousseff, ele passou a monopolizar todo o tempo político. Agindo assim, a mídia brasileira assina mais um recibo de seu partidarismo e falta de isenção. Até agora não vimos nenhum telejornal lembrar que, no ano 2000, os dados fiscais de 17 milhões de brasileiros foram violados, informação esta que serviria, no mínimo, para desanuviar o ambiente político, levando o tema de volta para onde sempre deveria ter ficado, a esfera policial.
10 de setembro de 2010
Quem cometeu crime eleitoral?
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Desculpa, Miguel, mas esse papo de quebra de sigilo ser crime grave já perdeu a razão de ser. Sigilo bancário e fiscal é coisa de burguês. Já passou da hora dos grandes executivos, políticos, jornalistas prestarem contas à sociedade e mostrarem o valor de seus contra-cheques. Pra que serve esse sigilo todo? Vamos pensar: pra ninguém ficar sabendo mais precisamente sobre os
nossos disparates sociais? Pra mascarar hipocrisia? Ah, quer saber de uma coisa? Quebraram o sigilo do Serra? Foda-se! Da Dilma? Foda-se! Do Roberto Marinho? Foda-se! Do Eike Batista? Ia ser ótimo. Proponho a quebra do sigilo bancário de todas as empreiteiras do Brasil, do Itau e das empresas de ônibus do Rio de Janeiro, só pra começar. A porra do Google invade meu computador todo dia e eu não reclamo.
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