9 de setembro de 2010

Carta aberta a Dora Kramer

Prezada jornalista Dora Kramer, serei breve.

A senhora tem se mostrado muito revoltada com a quebra de sigilo fiscal de diversos brasileiros e feito, como aliás tem sido sua missão nos últimos anos, pesadas acusações ao presidente Lula.

Muito bem. É seu direito e inclusive lhe parabenizo pela coragem de nadar contra a maré da opinião da grande maioria dos brasileiros e criticar um presidente com mais de 80% de aprovação popular (chega a mais de 90% entre os pobres e no Nordeste).

Mas, por favor, seja honesta.

Hoje a sua coluna termina repreendendo a candidata Marina Silva por ter cutucado o tucano José Serra, acusando-o de se fazer de vítima. Ao final do texto, porém, há uma frase que apenas serve para desinformar a sociedade:


A candidata Marina Silva provavelmente se considerasse vítima da Receita caso seu sigilo fiscal tivesse sido quebrado.

Portanto, quem teve a privacidade violada pelo Estado não se "faz" de vítima. Por definição "é" uma vítima, independentemente da filiação partidária.

Só para raciocinar: e se o sigilo fiscal violado fosse o de um dos filhos do presidente Lula? E se o caso acontecesse no governo do PSDB?

Prezada jornalista, a senhora por acaso se esqueceu de que, em 2000, ou seja, durante o governo do PSDB, houve um vazamento de proporções muito maiores, onde 17 milhões de brasileiros tiveram seus sigilos fiscais vazados, incluindo o presidente da República?

Para refrescar sua memória, forneço o link de matéria na revista Época sobre o caso e reproduzo abaixo um trecho:

As primeiras análises feitas pelo Instituto de Criminalística (IC) de São Paulo do conteúdo do disco digital amarelo, da marca Dysam, confirmam a quebra do sigilo fiscal de pelo menos 17 milhões de brasileiros. Estima-se que lá estejam todos os contribuintes. Trata-se de uma violação de direito constitucional de proporções gigantescas. Um laudo parcial do IC será divulgado na sexta-feira 3.

Procurei em vão editoriais bombásticos na imprensa contra esse crime. Ninguém falou em desrespeito aos direitos constitucionais. Ao contrário, acho que o destaque à violação do sigilo do presidente da república ajudou a pintá-lo como "mais uma vítima", e livrá-lo, e a seu governo, da culpa por terem permitido que tal vazamento ocorresse. E não vimos textos apocalípticos como vimos nos últimos dias. O caso foi literalmente abafado.

A senhora esqueceu também que dados sigilosos de políticos foram violados no Rio Grande do Sul, estado governado pelo PSDB? Entre as vítimas estavam o candidato Tarso Genro, adversário da atual governadora nas eleições, e o de uma filha de oito anos de um parlamentar do Partido dos Trabalhadores.

Para ser honesta com seus leitores, portanto, a senhora deveria tê-los lembrado desses fatos, mesmo que fosse para apontar diferenças, nem que fosse para dizer que, em 2000, houve um crime comum sem envolvimento partidário e que agora tudo é culpa do PT. Tinha a obrigação de lembrar do acontecido, ao invés de fazer uma perguntinha retórica que dá a entender que vazamentos dessa espécie jamais ocorreram em governos tucanos.

4 comentarios

Unknown disse...

Muito bom o artigo. É inacreditável como estas pessoas tem o discaramento de escrever certas coisas!!!!

Juliano Guilherme disse...

E tem mais, ela afirma que o Estado, leia-se governo Lula, violou o sigilo.
Quem ela acha que é para julgar e condenar? E se ficar provado que foi um quadrilha que vende sigilos, ou então um grupo ligado ao Aécio? Ela vai se penitenciar? Claro que não.
Não sabe respeitar o princípio constitucional básico de presunção de inocência, é quer posar de defensora da democracia. Ora, vá para a "ponte que partiu' minha senhora

alex disse...

DORA TEM UMA DOENÇA GRAVE:

Amnésia. Mas deve valer a pena a crise de "esquecimento" que esta jornalista (será?) sofre ao escrever seus editoriais.

Deve valer muito a pena. Muito ...

Carlos disse...

Só resta dizer: essa mulher (Dora Kramer) é uma grande hipócrita, uma mera serviçal e um pau-mandado dos barões midiáticos. Mas é exatamente esse tipo de gente que tem espaço no PIG. A indigna e lamentável postura de Dora Kramer não é a mesma ou muito semelhante à que vemos no Boris Casoy, no Carlos Nascimento, no William Bonner, no William Waack, no Arnaldo Jabor, na Mônica Waldvogel, na Miriam Leitão, no Sardemberg, ... e assim por diante? Espero que todo esse lixo midiático esteja realmente com os dias contados.

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