16 de setembro de 2010

Bomba ou factóide?



A mídia continua centrando fogo na Casa Civil, fazendo um verdadeiro cerco. Erenice Guerra, uma técnica sem experiência política nem muito jogo de cintura, surge como vítima perfeita. A sua última nota, acusando Serra (embora sem citá-lo) como um candidato já derrotado, errou no tom e a ministra talvez tenha perdido o apoio que tinha dentro do governo. Talvez.

O roteiro é conhecido. A mídia desestabiliza psicologicamente uma figura, mirando não apenas nela mas em toda a sua família, expondo-a diretamente a todo o tipo de ataque pesado, até que a pessoa cometa um erro. Raríssimos conseguem manter a fleuma de um Sarney. Esses figurões de Brasília são cercados de lobbistas por todos os lados. Empresas de consultoria procuram filhos, sobrinhos, netos, de pessoas públicas atrás de acesso privilegiado aos donos do poder. Deve ser difícil resistir à vida fácil de ser "consultor" e ganhar rios de dinheiro apenas para marcar um almoço ou encaminhar uma proposta diretamente a determinada secretaria. Esse tipo de tráfico de influência deve ser combatido sistematicamente, e ao mesmo tempo é uma questão delicada porque envolve a família e seus eternos conflitos domésticos.

É uma guerra sem fim e que, em períodos eleitorais, ganha um dinamismo diferente. Todas as empresas e indivíduos que não conseguiram o pretendido acesso privilegiado, que perderam contratos, licitações, financiamentos, encontram ocasião para se vingar.

PSDB e DEM ainda tem muito poder. O governo de São Paulo tem bala na agulha para liberar financiamentos ou contratar obras bilionárias, e não custa persuadir um empresário amigo a fazer denúncia que pode prejudicar o adversário.

Não somos ingênuos de achar que não há mais corrupção no governo federal. O governo aumentou o investimento a uma proporção que há décadas não se via. A quantidade de obras aprovadas pela Casa Civil é colossal. É óbvio que, diante de tal volume de recursos, todas as grandes (e mesmo nem tão grandes) empresas do país acionaram seus contatos em Brasília para obterem informações junto ao governo.

Vejamos a denúncia de hoje da Folha. Trata-se de um contrato de 9 bilhões de reais, dinheiro do BNDES. O empresário que serve de fonte não conseguiu o financiamento desejado. Ou seja, se houve proposta de propina, ela não se concretizou.

Claro que há lobby em Brasília. Muitos parlamentares e importantes setores da mídia defendem a sua legalização, como ocorre nos EUA. Eu mesmo não tenho opinião formada. Há firmas especializadas nisso de montão, disfarçadas ou não de consultorias. E de qualquer forma, mesmo que não existisse lobby (num mundo encantado), as firmas precisam de consultores que as auxiliem a decifrar os enigmas da burocracia. A situação é esta:

  1. O país precisa de investimentos. Todo mundo sabe disso. A própria mídia pede que se aumente exponencialmente o percentual dos investimentos sobre o PIB.
  2. O governo aumenta o volume investido, em obras de infra-estrutura, etc. 
  3. Milhares de empresas disputam encarniçadamente as verbas disponibilizadas. Não é preciso ser jornalista da Folha para imaginar a guerra surda entre as empresas, e logo entre as consultorias responsáveis pelos projetos e por sua apresentação ao governo.
  4. Virtualmente, qualquer funcionário do BNDES, da Casa Civil, do governo enfim, ou qualquer parente de um deles, que tenha poder de influenciar uma decisão está sujeito a ser "abordado" por um desses consultores. 
  5. É claro que, com tanto dinheiro e tantas obras, com certeza alguma mutreta deve ter em alguma parte. Muita ou pouca, não se sabe. Mas a solução é aprimorar os sistemas de controle, auditoria e fiscalização. 
  6. Ninguém é otário de achar que um governo do PSDB seria eticamete puro. A gente já experimentou um governo federal controlado pelos tucanos. Ninguém era sequer investigado. E a imprensa acobertava. Em São Paulo, há mutreta em toda a parte, viadutos e metrô desabam, e a imprensa sequer aperta as autoridades responsáveis.
Diante de tudo isso, temos que nos cuidar para não sermos sugados pela voragem denuncista, pela ética de ocasião, pela indignação oportunista e eleitoreira. A corrupção deve ser combatida através do aperfeiçoamento das instituições, com ênfase na separação dos poderes. É muito importante que tenhamos autarquias de controle politicamente imparciais e independentes, que possam investigar os fatos sem interferência de humor eleitoral, midiático ou governamental. 

Voltando à denúncia de hoje da Folha, onde empresário denuncia tráfico de influência de consultora ligada ao filho de Erenice Guerra, tenhamos em mente que, segundo a própria fonte da matéria, a propina não foi paga e o financiamento não saiu. Pode ter havido um crime de tráfico de influência sim, e se houve que seja investigado e punido, mas essa atmosfera de linchamento apenas prejudica o debate político e produz prejulgamentos injustos, além de trazer a tiracolo uma porção de mentiras. Por exemplo, a denúncia da Folha agrega uma suposta cobrança, por parte dos lobbistas, de uma doação de R$ 5 milhões para a campanha da Dilma. Se não há provas concretas e cabais sobre isso, essa acusação desmerece toda a denúncia como um factóide eleitoral, e o acolhimento dela, de forma acrítica, pelos jornais, apenas reflete o desejo de influenciar as eleições em benefício de a gente sabe quem. 

17 comentarios

Anônimo disse...

O que esta bandidagem midiática está fazendo não tem o menor cabimento, a blogosfera precisa urgente levar adiante uma campanha pela legalidade

Rafa

Capitão Óbvio disse...

Campanha no Twitter

Carta Aberta ao Assinante da Veja
- http://tinyurl.com/2wcpxf8 -
#CanceleVeja #BoicoteAnunciantesDaVeja

José Carlos Lima disse...

Olha só a cilada da Folha:

Diz o panfleto do Serra que o filho de Erenice pediu.

Mesmo que isto fosse verdade, onde está o crime?
A não ser que no código penal exista o crime de "tentativa de corrupção"

Sei que há tentativa de homicídio, isto é crime

Tentativa de corrupção?

Mais essa

Anônimo disse...

O criminoso ai é o empresáro que não denunciou quando o fatoocorreu

RobsonFrança disse...

Miguel, tudo bem?

Não acho que a Erenice errou o tom. O governo errou o tom com a mídia desde 2006. Passaram a mão na cabeça do "PIG" desde sempre. Não mostraram o que todos nós já sabemos: que a mídia tem um lado. Com medo de parecer censura ou de tolher a liberdade de expressão, o governo defende uma liberdade de imprensa que não existe mais. Temos, isso sim, uma liberdade de "empresa", que pode difamar e destruir reputações. Por que o governo (e suas empresas coligadas) continua insistindo nesses conglomerados de mídia que buscam, a todo custo, fazer valer a sua vontade sobre a população?

Abraços

Miguel do Rosário disse...

Robson, concordo que a Erenice deveria mesmo ter reagido com dureza, como fez. Errou o tom ao falar em "candidato já derrotado". As eleições não aconteceram, portanto Serra apenas será um candidato já derrotado após o dia 3 de outubro. Só isso.

Anônimo disse...

QUASE

Dá até prá brincar com isso

IV Avatar disse...

É bem provável que Lula aceite o pedido de demissão de Erenice, ela deve pedir demissão hoje
Deu no PHA

http://www.conversaafiada.com.br/politica/2010/09/16/erenice-deve-sair-ainda-hoje/

Adriano Matos disse...

Miguel, vc sabe a profissão do filho da ministra? Como vc disse antes, não é prá qq um dispor-se a abrir sigilo fiscal, telefônico, etc para preservar o nome limpo de servidora pública. Tenho certeza que a Ministra Erenice tem consciência que não houve contravenção.

RobsonFrança disse...

Miguel, o ponto não é só esse: a situação chegou aonde chegou por omissão do Estado brasileiro, principalmente por parte do executivo, em relação ao excesso de liberdade que foi dado aos grandes grupos de mídia. Chamar o outro candidato de derrotado foi, no mínimo, um excesso, ainda mais por ser uma servidora pública. Agora, por outro lado, temos que cobrar a dureza que a Ministra teve também dos demais membros do governo. Até quando a mídia vai deitar e rolar por aqui?

Abraços

Anônimo disse...

O Pt vai jogar a Eurenice aos leões.
E os leões quererão mais carne....

IV Avatar disse...

Enviem este email:

Qualquer cidadão pode pesquisar os TRFs na internet, fui o que fiz para saber sobre o tal Rubnei Quicoli a fonte "confiável" da Folha. O tal Quicoli, mesmo tendo sido condenado e preso por vários crimes, reclama contra o BNDES pq o banco não le deu uma linha de crédito. O tal Quicoli aproveitou a onda denuncista para dizer na Folha que só não foi aprovado pelo BNDES pq o filho da Erenice Guerra não teria recebido uma propina para que o crédito para o larápio fosse aprovado. A Folha aproveitou a versão do larápio para estampar em sua capa "Filha de Erenice QUASE recebeu 5% de um processo em trâmite no BNDES", conforme notícia o Luis Nassif:

Não insiro o link agora pq o blog do Nassif está fora do ar desde o momento em que noticiou que a fonte da Folha acabou de sair da cadeia.

PROCESSO
2000.61.05.007953-1

ASSUNTO
Receptação (art. 180) - Crimes contra o Patrimônio - Direito Penal
DETALHE 1
Moeda Falsa/Assimilados (art. 289 e §§ e 290) - Crimes contra a Fé Pública - Direito Penal
DETALHE 2
Regime Inicial - Aplicação da pena - Parte Geral - Direito Penal
DETALHE 3
AÇÃO PENAL PÚBLICA (PROCEDIMENTO CRIMINAL COMUM)

AUTUAÇÃO
15.01.2002
APTE
RUBNEI QUICOLI
ADVG
ROGÉRIO BATISTA GABBELINI
APDO
Justica Publica

Todas as Fases do Processo

DATA
DESCRIÇÃO
20.07.2010
BAIXA DEFINITIVA A SECAO JUDICIARIA DE ORIGEM GRPJ N. GR.2010143412 Destino: JUIZO FEDERAL DA 1 VARA DE CAMPINAS >5ªSSJ>SP
19.07.2010
RECEBIDO(A) GUIA NR. : 2010141535 ORIGEM : SUBSECRETARIA DA QUINTA TURMA
19.07.2010
JULGADO RECURSO/ACAO (DECISÃO: A Turma, à unanimidade, deu parcial provimento à apelação para reduzir a pena do réu, para 3 (três) anos de reclusão e 10 (dez) dias-multa, emrelação ao delito do artigo 289, § 1º do Código Penal, e para 1 (um) ano de reclusão e 10 (dez) dias-multa, em relação ao delito do artigo 180 do Código Penal, resultando a pena em 4 (quatro) anos de reclusão e20 (vinte) dias-multa, a qual tornou definitiva, determinando o regime inicial aberto e substituir a pena privativa de liberdade por 2 (duas) restritivas de direitos, nos termos do voto do(a) relator(a).¶) (RELATOR P/ACORDÃO: DES.FED. ANDRÉ NEKATSCHALOW) (EM 26.04.2010 )
09.04.2010
RECEBIDO(A) COM CIÊNCIA DO MPF
06.04.2010
REMESSA PARA SUCESSÃO GUIA NR.: 2003168823 DESTINO: GAB.DES.FED. ANDRÉ NEKATSCHALOW
16.09.2003
RECEBIDO(A) GUIA NR. : 2003168800 ORIGEM : GAB.DES.FED. ANDRÉ NEKATSCHALOW
29.05.2002
CONCLUSOS AO RELATOR GUIA NR.: 2002081611 DESTINO: GAB.DES.FED. FÁBIO PRIETO
24.05.2002
RECEBIDO(A) DO MPF COM PARECER.
16.01.2002
REMESSA GUIA NR.: 2002004282 DESTINO : MINISTERIO PUBLICO FEDERAL
15.01.2002
DISTRIBUIÇÃO AUTOMATICA Distribuição automática-MPF do dia 15.01.2002 12:16:45

LINk: http://www.trf3.jus.br/trf3r/index.php?id=26&op=Consulta&Processo=200061050079531&TPartes=1

IV Avatar disse...

Enviem este email:

Qualquer cidadão pode pesquisar os TRFs na internet, fui o que fiz para saber sobre o tal Rubnei Quicoli a fonte "confiável" da Folha. O tal Quicoli, mesmo tendo sido condenado e preso por vários crimes, reclama contra o BNDES pq o banco não le deu uma linha de crédito. O tal Quicoli aproveitou a onda denuncista para dizer na Folha que só não foi aprovado pelo BNDES pq o filho da Erenice Guerra não teria recebido uma propina para que o crédito para o larápio fosse aprovado. A Folha aproveitou a versão do larápio para estampar em sua capa "Filha de Erenice QUASE recebeu 5% de um processo em trâmite no BNDES", conforme notícia o Luis Nassif:

Não insiro o link agora pq o blog do Nassif está fora do ar desde o momento em que noticiou que a fonte da Folha acabou de sair da cadeia.

PROCESSO
2000.61.05.007953-1

ASSUNTO
Receptação (art. 180) - Crimes contra o Patrimônio - Direito Penal
DETALHE 1
Moeda Falsa/Assimilados (art. 289 e §§ e 290) - Crimes contra a Fé Pública - Direito Penal
DETALHE 2
Regime Inicial - Aplicação da pena - Parte Geral - Direito Penal
DETALHE 3
AÇÃO PENAL PÚBLICA (PROCEDIMENTO CRIMINAL COMUM)

AUTUAÇÃO
15.01.2002
APTE
RUBNEI QUICOLI
ADVG
ROGÉRIO BATISTA GABBELINI
APDO
Justica Publica

Todas as Fases do Processo

DATA
DESCRIÇÃO
20.07.2010
BAIXA DEFINITIVA A SECAO JUDICIARIA DE ORIGEM GRPJ N. GR.2010143412 Destino: JUIZO FEDERAL DA 1 VARA DE CAMPINAS >5ªSSJ>SP
19.07.2010
RECEBIDO(A) GUIA NR. : 2010141535 ORIGEM : SUBSECRETARIA DA QUINTA TURMA
19.07.2010
JULGADO RECURSO/ACAO (DECISÃO: A Turma, à unanimidade, deu parcial provimento à apelação para reduzir a pena do réu, para 3 (três) anos de reclusão e 10 (dez) dias-multa, emrelação ao delito do artigo 289, § 1º do Código Penal, e para 1 (um) ano de reclusão e 10 (dez) dias-multa, em relação ao delito do artigo 180 do Código Penal, resultando a pena em 4 (quatro) anos de reclusão e20 (vinte) dias-multa, a qual tornou definitiva, determinando o regime inicial aberto e substituir a pena privativa de liberdade por 2 (duas) restritivas de direitos, nos termos do voto do(a) relator(a).¶) (RELATOR P/ACORDÃO: DES.FED. ANDRÉ NEKATSCHALOW) (EM 26.04.2010 )
09.04.2010
RECEBIDO(A) COM CIÊNCIA DO MPF
06.04.2010

Unknown disse...

QUATRO CIDADELAS SOB ATAQUE: O QUE PRECISA SER DEFENDIDO

Por Mauro Carrara - NovaE

Nada está ganho. E, sem alarmismo, a democracia corre perigo. Sempre correu. Sempre correrá.
Setembro é um túnel. É um túnel de fogo. E a temperatura está próxima do ponto de ebulição.

Os partidos neofascistas e o consórcio terrorista Globo-Abril-Folha-Estadão (GAFE) seguem a operação de sabotagem informativa, cometendo crimes que são solenemente ignorados por policiais, promotores e juízes.

E se o objetivo é proteger o Brasil, o Estado de Direito e o processo de crescimento acelerado com inclusão e desconcentração da riqueza, há quatro cidadelas a serem defendidas.

1) As igrejas, sobretudo as evangélicas pentecostais, tornaram-se centros de pregação do ódio e de disseminação da infâmia. Inúmeros bandidos de terno e gravata, autodenominados "pastores", proferem diariamente sermões destinados a caluniar e difamar a candidata Dilma Rousseff. Chamam-na de filha do diabo, assassina de crianças, prostitua e assaltante.

2) A Internet passa agora a ser inundada por milhões e milhões de e-mails caluniosos. São distribuídos por mais de 650 funcionários contratados pelos partidos neofascistas, por membros dos grupos restauracionistas da Ditadura Militar (vide Ternuma) e por membros de grupos neonazistas, como a Tribuna Nacional, de Ingo Schmidt.

3) Os "formigas" do "porta-em-porta". Os partidos neofascistas pretendem mobilizar até 10 mil pessoas para visitar estabelecimentos comerciais (como bares e padarias) e residências. O objetivo é espalhar o terror acerca de Dilma Rousseff. A Zona Norte da capital paulista, em bairros como Tucuruvi e Parada Inglesa, já vem sofrendo com esses "arrastões" há mais de uma semana. Depois de se apresentar, o agente tucano pergunta à dona de casa: "a senhora sabia que a Dilma foi assaltante de bancos e matou pessoas indefesas?"

4) A grande mídia deve lançar outros inúmeros factoides até o dia 3. Um deles tende a lançar a teoria de que Dilma matou a esposa de outro membro da resistência à Ditadura Militar. Esse assunto vem sendo discutido diariamente nas redações. Ideia defendida por Roberto Gazzi, do jornal O Estado de S. Paulo, tem o aval de Eurípedes Alcântara, um dos chefes do Instituto Millenium.
As cidadelas da fé, da virtualidade, do domicílio e da máquina informativa precisam, portanto, se transformar em campo aberto de combate nestes próximos dias.

Toda energia será necessária para barrar o último ataque bárbaro. E ele virá em forma de avalanche.
A partir de agora, os defensores da Democracia devem estar alertas. Devem dormir menos. Devem usar todo o tempo livre para combater nos fronts virtuais, disseminando a verdade e rechaçando com vigor o avanço neofascista.

Faça de seu teclado uma metralhadora, mas não para provocar a morte; e sim para defender a justiça, o direito e a vida.
A hora é agora; quem sabe a faz, não espera acontecer.

fonte: http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=1588

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Andre Borges Lopes disse...

Miguel, eu estou pasmo. Menos com a queda da Erenice e mais com a sandice que ganha corpo no vale-tudo eleitoral, e derrete o pouco que restava de massa cinzenta dos repórteres e editores da velha imprensa.

Li de manhã no blog do Nassif e fui até a banca de jornais da esquina para conferir achando que era erro de digitação. Mas estava na capa da Folha: NOVE BILHÕES DE REAIS é o valor do suposto empréstimo do BNDES que detonou o escândalo do dia.

Todo mundo conhece a máxima de que "jornalista não sabe fazer conta", mas R$ 9 BI é demais. No auge da crise de 2008 a Petrobrás – a maior empresa brasileira – tomou empréstimo de R$ 2 bilhões da CEF e o mundo quase veio abaixo por conta disso. O Eike Batista promete construir uma fábrica de carros elétricos e diz que o investimento será de R$ 1 bi. Na construção da hidroelétrica de Belo Monte, terceira maior usina do mundo e maior investimento no setor elétrico brasileiro em décadas, o governo federal estima gastos entre 16 e 20 bilhões de reais.

Eis que, de repente, surge no cenário a misteriosa EDRB de Campinas, "joint venture" das desconhecidas Órion Campinas Comércio e Automação de Equipamentos para Informática Ltda e Enerco - Energia e Coogeração Ltda. A empresa que tem como sócios os Srs. Marcelo Escarlassara e Aldo Wagnerum possui um site na internet (www.edrb.com.br) digno de uma padaria. Oferece como e-mail de contato o e-mail pessoal de um dos sócios (aldo@edrb.com.br). E o que pede a EDRB ao BNDES? Nada menos que um empréstimo de MEIO BELO MONTE para "instalar uma central de energia solar no Nordeste" usando uma nova tecnologia que, aparentemente, só existe na realidade virtual.

Para cuidar desse estratégico e bilionário empreendimento - que certamente iria alterar o panorama energético brasileiro, quiçá mundial - a EDRB contrata os serviços do consultor Rubnei Quícoli, um receptador de cargas roubadas e moeda falsa que condenado pela justiça que amarrou recentemente alguns meses de cana. O esforçado consultor arruma um contato com alguém na Casa Civil, consegue uma audiência nas antessalas do poder e, supostamente, recua horrorizado porque alguém lhe pediu R$ 40 mil de mesada e R$ 5 milhões adiantados de propina "para pagar as dívidas da Dama de Ferro".

Me Deus do Céu!! O dono de qualquer empresa do mundo que tenha porte e estrutura para pedir um empréstimo de NOVE BILHÕES DE REAIS no BNDES tira o telefone do gancho e fala com o Luciano Coutinho em cinco minutos. Ou com o Guido Mantega. Ou com o presidente Lula. Mas a EDRB de Campinas preferiu contratar para a tarefa um ex-criminoso, que tinha um conhecido que trabalhava nos Correios, para batalhar um contato com um amigo do filho da secretária da ministra da Casa Civil. E aí descobriu que para colocar a mão na bilionária bufunfa teria que pagar 5% de comissão para a Capital Consultoria, uma empresa que funcionava precariamente num sobrado da periferia de Brasília. Os tais 5% de R$ 9 bilhões representariam a bagatela de R$ 450 milhões, o que é pouco mais que a SOMA DO CUSTO DECLARADO das campanhas da Dilma, Serra e Marina juntas.

Está difícil de saber quem é o mais vigarista nessa história toda. Verdadeiramente surpreendente é que esse bando de malucos tenha de fato conseguido uma audiência com o sub da sub da Dilma na sede do governo - aparentemente graças às lambanças dos garotos da Erenice. Não tão surpreendente é ver a Folha de São Paulo colocar na sua capa mais um personagem do submundo das pequenas corrupções cotidianas, tentando fazer disso o escândalo que vai finalmente abalar os alicerces da República.

Depois do despachante falsário Antônio Carlos Atella Ferreira, do lobista de subúrbio Fábio Baracat e do ex-espião ladrão de tijolos Sílvio Carriço Ribeiro, chegou a vez do receptador Rubnei Quícoli ter seus quinze minutos de fama.

Ai que saudade do motorista Eriberto e do caseiro Francenildo! O Incrível Exército de Brancaleone dos escândalos midiáticos já contou com personagens bem mais distintos e com roteiristas de melhor qualidade.

Anônimo disse...

Miguel, vc pode remover meus comentários, e daí ?
A verdade sempre vai ser a verdade.
Nosso país vai ser o proximo a cair nas mãos da canalha. (quer dizer, já caiu)

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