A mídia e o CPF de Eduardo Jorge

Consultar o CPF de alguém é a coisa mais fácil que existe hoje em dia. Desde que se tenha o CPF da pessoa, claro. Quando é uma pessoa pública, um político, como é o caso de Eduardo Jorge, vice-presidente do PSDB, é moleza. Basta entrar no site dele:

De posse do CPF, entra-se no site da Receita e pronto.

É muito ridículo, portanto, a midia fazer um escândalo porque um funcionário da Receita Federal simplesmente consultou o CPF de Eduardo Jorge. Segundo matéria na Folha (que também deu manchete escandalosa), o funcionário não viu nada sigiloso:

A consulta ao CPF dá acesso a dados cadastrais -como nome e endereço. Não permite observar declarações de renda nem de bens.

O tal funcionário "petista", portanto, viu o que eu pude ver após pesquisa de um minuto no Google.

Vale lembrar que Eduardo tem enfrentado, nos últimos anos, diversas acusações do Ministério Público, sobretudo de enriquecimento ilícito. O tucano reage, como se vê no documento acima, sempre atacando procuradores da República. Motivos para acessar o seu CPF, portanto, não faltam. 

Confira a notícia abaixo, de janeiro de 2006:

Eduardo Jorge não briga apenas com a Receita. Ele também ataca procuradores da República. Como um sujeito desse nível pode ser tratado com veneração pela mídia? Como podem lhe dar tanto palanque para atacar as instituições da República, a Receita, as eleições, a presidência?

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A postura do PSDB de apelar para o tapetão é lamentável. Mais ainda é a decisão da mídia de sustentar isso. Na verdade, acho que eles não acreditam na possibilidade de impugnação da candidatura de Dilma Rousseff. O objetivo agora, além do desgaste político e eleitoral, é deslegitimar a vitória da petista. Querem transformá-la numa espécie de Ahmadinejad de saias.

(Manchetão da primeira página do Globo desta segunda-feira 6 de setembro de 2010)

A manchete é descaradamente mentirosa. Porque as informações da Receita não provam que ele acessou dados sigilosos e sim apenas consultou o CPF de Eduardo Jorge. A própria matéria afirma isso:

Ou seja, há uma divergência entre  manchete e a matéria. Na matéria, diz-se que "pode significar que ele tentou verificar". Na manchete, uma acusação peremptória: "Sigilo de tucano foi quebrado também em MG". A manchete é mentirosa.

A mesma coisa acontece na página 4, onde há entrevista com Everardo Maciel, secretário da Receita no tempo de FHC. A manchete é essa:

É impressionante como eles deturpam tudo. Maciel fez críticas pesadas à Receita, mas observou que a nomeação de Otacílio Cartaxo, atual secretário, foi uma ação com vistas a despolitizar a instituição. Diz ainda que não se deve tratar o tema como uma questão política.

O Globo manipula deliberadamente a opinião pública. Independente de filiação partidária de algum funcionário da Receita, os sindicatos do órgão não são vinculados nem ao PT nem a centrais sindicais. As "facções sindicais" que disputam poder dentro da instituição são poderosas, mas independentes. Se há um problema sindical dentro da Receita, portanto, ele interfere nas questões operacionais internas do órgão, e não tem relação com o PT. Muito menos com eleições.

Quem está procurando contaminar o processo eleitoral? Leia abaixo a declaração de Sérgio Guerra, presidente do PSDB:

(Globo desta segunda-feira 6 de setembro).

Todo o discurso da oposição volta-se para acusação de que o governo cometeu crime eleitoral. O tal "outro petista" nem devia ser chamado de outro, visto que a filiação do primeiro (Artella) não foi confirmada e todos já sabem que o sujeito não tinha absolutamente nenhuma participação partidária. Pois bem, esse "outro petista" também não tinha nenhuma vivência de partido. E consultou o CPF de Eduardo Jorge em 3 de abril de 2009, ou seja, numa data ainda mais distante do que a violação do sigilo de Verônica Serra, que se realizou em setembro do ano passado.

Olha só como esses caras são irresponsáveis. Será que não percebem que um tapetão contra uma candidata com mais de 60% dos votos válidos, apoiada por um presidente com 90% de aprovação entre os mais pobres, provocaria uma verdadeira guerra civil? Leia nota de Renata Lo Prete, hoje na Folha:

Dois novos ingredientes estimulam o PSDB a insistir na tentativa de levar à Justiça Eleitoral o caso da quebra de sigilo fiscal de pessoas ligadas a José Serra: a descoberta da filiação ao PT de dois personagens da violação e a suspeita de queima de arquivo na sede do diretório petista em Mauá (SP). Em uma das representações que protocolará hoje no Ministério Público, a coligação tucana argumentará que já existem indícios de que o vazamento de dados na Receita Federal transcende o limite dos crimes comuns, afeta o equilíbrio na corrida presidencial e merece apuração antes do pleito.

Não há informações sobre os motivos que levaram o funcionário a consultar o CPF de Eduardo Jorge, mas não há nada que ligue o ato às eleições deste ano. Não se sabe sequer se a consulta foi irregular. Há um prejulgamento terrível e uma escandalização medonha.

O candidato José Serra é a última pessoa que deveria partir para prejulgamentos e precondenações. Ele é o presidenciável com mais processos nas costas. Segundo pesquisa do Congresso em Foco, o tucano tem 20 processos judiciais pendentes, sendo três por improbidade administrativa. Da mesma forma, o PSDB é o terceiro partido no ranking dos mais corruptos, segundo levantamento do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral divulgado em 2009, com dados de 2000 a 2008. Seu aliado, DEM, vem em primeiro lugar. Com que moral, o PSDB e a mídia fazem acusações sem provas ao PT?

Observação: no site do MCCE, esse ranking de partidos está totalmente escondido. Tenho a impressão que se o PT figurasse em primeiro lugar, ele teria destaque especial...