10 de maio de 2010
Anotações a juro baixo
(Dou continuidade à minha série de fotos do Rio Antigo; essa aí, porém, não é minha; peguei nesse site; é de um prédio na Praça Tiradentes).
Como diz o vulgo, falar é fácil. A política de juros do Banco Central é um tema sério, que merece ser debatido com serenidade. O candidato José Serra, ao agredir Miriam Leitão em sua entrevista para a CBN, mostrou mais uma vez sua personalidade autoritária e amarga.
A arrogância voluntarista por trás do serrismo lembra muito a figura do neoliberal triunfante, a la Carlos Menem. A entrevista do presidente do PSDB e coordenador geral da campanha presidencial do partido, o senador Sérgio Guerra, à revista Veja, nunca negada pelo próprio, deixou muito claro. O serrismo não dialogará com ninguém. Vai fazer tudo na base de medidas provisórias. Eles vão chegar lá para instalar, a golpes de canetada, um programa impopular e conservador.
Que irá beneficiar, já sabemos, alguns poucos. Há uma nova geração de Daniel Dantas lutando arduamente por um espaço ao sol.
O PSDB tem um plano para a educação? Dane-se o que pensam reitores, professores, alunos. Ah, eles protestam? Cacete neles! Os tucanos gostam de impor à sociedade mirabolantes soluções de cima para baixo, que sempre, por uma coincidência bizarra, implicam em perdas salariais para os trabalhadores, impostos maiores para empresas, e pedágios escorchantes para todo mundo.
É preciso deixar uma coisa bem claro. O empresariado não tem esse amor todo pelo PSDB, inclusive o paulista. Se tivesse, o Paulo Skaf, presidente da Fiesp, não entrava no PSB para tentar vencer os tucanos nas urnas. Serra serve a interesses ideologicamente obscuros.
Essas eleições presidenciais são as mais importantes da história do Brasil, porque pela primeira vez um presidente herdará uma economia em vôo acelerado para o alto, com um crescimento saudável, sem inflação, com reservas internacionais em nível elevadíssimo (245 bilhões de dólares). O mercado e as instituições oficiais prevêem um salto econômico em 2010 e nos anos seguintes. A The Economist estimou, poucos meses atrás, que o Brasil, mantendo um crescimento modesto de 5%, poderá se tornar, entre 2014 e 2024, a quinta economia mundial.
E, sobretudo, claro, há o pré-sal. Não foi "sorte" achar petróleo tão lá embaixo. Foi o fruto de investimento maior em pesquisa. Lula injetou dinheiro, confiança e otimismo na Petrobrás. O PSDB e a mídia têm um longo histórico de ataques à Petrobrás. É uma situação irônica. Em consequência das ameaças tucanas à corporação, seus executivos se tornam petistas por autodefesa; aí os tucanos atacam de novo dizendo que há aparelhamento porque diretores e empregados são do PT. Isso é ameaça. É como dizer: se ganharmos, retaliaremos. Parece os EUA forçando os cubanos a se aliarem à União Soviética.
Parlamentares, jornalistas e militantes tucanos em geral são extremamente hostis à Petrobrás e às empresas públicas. O "aparelhamento" muitas vezes vem de baixo, da organização política no chão de fábrica. Há um aspecto espontâneo, livre, resultado da dialética interna do proletariado (quanto tempo não usava esse termo, estou bem comunista esse ano). Ao criminalizar isso, a direita agride a liberdade sindical, fere a liberdade do trabalhador, sabota os direitos políticos do cidadão. Empregados e diretores da Petrobrás tem direitos políticos que lhes conferem a liberdade de pertencerem a qualquer partido. É muita contradição defender a democracia e desrespeitar os direitos políticos de cidadãos e trabalhadores. Desde que, é claro, os trabalhadores tenham comportamento honesto e exerçam suas profissões de maneira séria.
Voltando aos juros, reparem no gráfico abaixo. Os juros praticados pelo governo tucano atingiram, no primeiro trimestre de 1999, as raias da loucura tântrica: 45%! Com Lula caíram para 8,75% ao final do ano passado, o patamar mais baixo em décadas. Aumentou para 9,5% em abril, mas permanece o mais baixo dos últimos anos. Todo mundo quer juro baixo, mas a gente deseja, acima de tudo, responsabilidade e competência na gestão macroeconômica do Brasil. Falar que pode mais é fácil, o difícil, como dizia Maiakósvki, é a vida e seu ofício.
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"O candidato José Serra, ao agredir Miriam Leitão em sua entrevista para a CBN mostrou, mais uma vez, sua personalidade autoritária e amarga."
Ora, bem que ela mereceu, embora no meu entendimento não tenha existido "agressão" alguma. Nem física, nem verbal. Todos conheçem a Mirian e sabem que a urubóloga não é flor que se cheire e é uma viúva do FH, então, sem apelos feministas (?!), pls. Por mais que não queira um retrocesso, que seria o governo Serra, sou obrigado a concordar com ele nesse ponto: o governo tem o direito de dar palpites em relação ao BC.
Prezado anônimo. Serra agrediu uma jornalista que lhe defende, que lhe apóia. Não é a primeira vez que ele faz isso. Ele reage com extrema agressividade à menor crítica. Mesmo com uma mídia favorável, seu gestão tende ao silêncio, ao obscuro, às decisões tomadas em gabinetes fechados, em reuniões a três em restaurantes chiques de São Paulo.
Claro que o governo tem o direito de dar palpites sobre a política do Banco Central. Mas se um presidente der um palpite agressivo sobre uma decisão do Copom, terá de demitir ou causar uma crise interna. Então o governo Serra verá um vaievem interminável de presidentes do banco central, como se viu no governo de FHC.
O que estava em questão é o respeito à instituição enquanto corpo de estudiosos. Eu acho que o governo e a sociedade civil devem ter voz no Banco Central, mas sem violar a independência quase, sim, sacerdotal que os diretores do Copom precisam manter para tomarem a decisão correta.
Há algo sim eclesiástico no Banco Central. Uma variação de meio ponto percentual para baixo ou para cima mexem com dezenas de bilhões de reais. As decisões tem que ser tomadas sem pensar na popularidade do presidente e sim no interesse maior da economia brasileira.
Se a experiência e inteligência dos funcionários do BC, que têm acesso a dados sigilosos e se dedicam integralmente à função, não forem respeitadas, então abriremos a política macroeconômica ao voluntarismo mafioso e corrupto dos amiguinhos de daniel dantas.
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