A primeira notícia a conquistar a preferência de minhas sinapses é uma das capas do Estadão. Brasil cresce mais que a China no primeiro trimestre, registrando a segunda maior taxa de crescimento no mundo, atrás apenas da Índia. Ah, bem, nessas horas eu queria ter um uísque 12 anos a minha disposição. Tudo indica que o Brasil saiu da crise financeira mais sólido e mais dinâmico do que entrou. Os jornais estão tentando olhar apenas o lado negativo do crescimento, que é a falta de mão-de-obra, mas nesse caso eu acho que eles prestam um bom serviço à sociedade.
A crítica da partidarização da imprensa chegou ao jornais hoje através de dois textos. Um, no Estadão, diz que as centrais sindicais "elegeram como inimigo o principal partido de direita no país, os conglomerados privados de mídia".
Outro, uma coluna de Noblat no jornal O Globo, tenta se defender dos ataques que recebe na blogosfera através de um contra-ataque capenga: diz que a internet é tão golpista e manipuladora quanto as mídias tradicionais.
Prefiro não me estender sobre o primeiro, porque ele é autoexplicativo. O jornal não explica, porém, o porquê as centrais sindicais pensarem assim. Além disso, há uma semana que o Estadão vem publicando reportagens de cunho fortemente antissindical.
Quanto ao texto do Noblat, trata-se de uma xaropada; muito sintomática, no entanto, sobre o poder crescente das novas mídias. Ele equipara forças totalmente distintas. A internet pode ter tantos defeitos, ou até mais defeitos, quantitativamente, que a imprensa corporativa. É partidária, caótica, passional. Mas é infinitamente mais democrática. Há sempre espaço para o contraditório. As pessoas podem comentar à vontade. Podem criar seus próprios blogs. Algumas notícias de jornal tem espaço para comentários, mas isso é muito recente e, de qualquer forma, não significa diálogo.
Não vejo, todavia, a blogosfera exatamente como inimiga da imprensa, e sim como um contraponto dialético. Acho que a sociedade ainda necessita de estruturas organizadas que possam se contrapor ao Estado e aos poderes econômicos, mas elas precisam se adaptar às novas realidades políticas que a tecnologia produziu. A internet minou grande parte do poder da imprensa e libertou (em parte) a sociedade civil da dependência que tinha da mídia tradicional para se expressar. Libertou também (em parte) a classe política, que agora pode se comunicar diretamente com seus eleitores, sem a necessidade do intermédio midiático.
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Muito boa essa entrevista de Marcio Thomaz Bastos para a Folha. Ele fala, inclusive, sobre o mensalão: "Não acredito que haja muito mais ali [no mensalão] do que esse tipo de coisa de crime eleitoral. Não me parece verossímil a história de que havia uma mesada paga a congressistas".
Bastos acha que a legislação eleitoral deveria se adaptar à realidade, dando maior liberdade para os candidatos dialogarem com o povo. As restrições atuais, que nestas eleições inclusive descambaram para análises "subjetivas", em que os ministros vêem culpabilidade até nas metáforas usadas pelo presidente, agridem a liberdade de expressão, princípio fundamental de nossa Constituição.
O ex-ministro da Justiça do governo Lula se soma ao grupo de juristas, no qual se inclui do ministro do TSE, Arnaldo Versiani, relator das regras para as eleições deste ano, que declarou ser favorável à liberação da propaganda eleitoral o quanto antes.
A liberdade é uma dádiva e deve ser preservada sempre que não prejudique a ordem social. A atual legislação eleitoral vem de épocas remotas, quando não existiam as atuais tecnologias de comunicação e por isso é anacrônica. O raciocínio de Versiani é simples e belo: quanto mais o eleitor souber, melhor. E para saber mais, é preciso saber antes, para que tenha mais tempo de processar as informações.
As pessoas estão cada vez mais conscientes da triste contradição de José Serra: quando era candidato do governo, tentou se descolar de FHC e vender-se como representante da mudança; agora, à frente de uma oposição raivosa e golpista, quer se mostrar como representante da continuidade, e seus aliados procuram, de todas as formas, evitar que a população saiba que Dilma Rousseff é a candidata apoiada pelo presidente da república.
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Passou despercebida, pelo menos para este blogueiro, uma notícia publicada na Folha de domingo sobre os resultados de uma outra pesquisa Datafolha, com perguntas sobre a ideologia dos eleitores e sobre o carisma dos candidatos. É tão interessante que reproduzo aqui mesmo, abaixo. Desta vez, porém, comento antes.
Interessante mas duvidosa, porque não consegue auferir o grau de confusão e ignorância por parte dos entrevistados. Os termos direita e esquerda, além disso, só adquirem sentido pleno numa relação dialética. Por exemplo, nos EUA, Obama representa a esquerda, em contraponto a seus adversários na política e na mídia. Apesar disso, Obama continua representado para o mundo, e mais ainda nesse momento específico de tensão diplomática com o Brasil, posições de direita.
A única conclusão válida, portanto, que se pode inferir da pesquisa Datafolha, é que, na comparação entre Dilma e Serra, a petista marcou mais pontos à esquerda do que o tucano, que por sua vez obteve pontuação relativamente forte à direita.
Por exemplo:
Extrema esquerda: Dilma 9 X 6 Serra.
Esquerda: Dilma 6 X 4 Serra.
Centro-esquerda: Dilma 11 X 4 Serra.
Centro: Dilma 16 X 18 Serra.
Centro-Direita: Dilma 13 X 15 Serra.
Direita: Dilma 9 X 13 Serra.
Extrema Direita: Dilma 13 X 15 Serra.
A comparação PT X PSDB é similar. E na questão "E em qual você colocaria os pré-candidatos?", Dilma consegue se posicionar à esquerda de forma ainda mais clara.
Folha 30/05/2010 - - Maioria dos eleitores do PSDB diz ser de direita
Entre simpatizantes do PT, 35% se veem na direita e 32%, na esquerda
Dilma é tida como a mais simpática por 29% e Serra, por 28%; ele é considerado o mais antipático por 27%
DE BRASÍLIA
A maioria (51%) dos simpatizantes do PSDB no Brasil se diz de direita, segundo pesquisa Datafolha realizada em 20 e 21 de maio, com 2.660 pessoas em todo o país. Entre os petistas, a taxa dos que se declaram de direita é de 35%.
O Datafolha realiza esse estudo há mais de 20 anos.
A pergunta é formulada assim: "Como você sabe, muita gente quando pensa em política utiliza os termos esquerda e direita. No quadro que aparece neste cartão [numerado de 1 a 7], em qual posição você se coloca, sendo que a posição "um" é o máximo à esquerda e a posição "sete" é o máximo à direita?"
Apesar de o PT ser um partido associado a ideias de esquerda, apenas 32% dos seus simpatizantes se declararam seguidores dessa orientação ideológica. No caso do PSDB, a taxa é de só 13%.
A estratificação isolando a intenção de voto para presidente mostra que 35% dos eleitores de Dilma Rousseff (PT) se dizem de direita, 26% de esquerda e 16% de centro. No caso de José Serra (PSDB), há 43% de direita, 17% de esquerda e 18% de centro.
Desde 1989, quando o Datafolha começou esse tipo de estudo, houve pouca variação na declaração de orientação ideológica. Apesar das pequenas flutuações ao longo dos anos, o total dos que se dizem hoje à direita é idêntico ao de 21 anos atrás: 37%.
A rigor, quando se considera os que se declaram de centro (posição número 4 na cartela da pesquisa) e os levemente inclinados à direita (posição 5) ou à esquerda (posição 3), pode-se dizer que um terço dos brasileiros prefere se colocar no centro do espectro político.
A soma dos que se dizem de centro, centro-direita e centro-esquerda é de 38%. O percentual é maior do que os daqueles que se dizem mais à esquerda (12%) ou mais à direita (24%). Outros 25% não souberam responder e 1% deu outras respostas.
SIMPATIA
No quesito "simpatia", a pesquisa confirma o senso comum de que carisma não é o forte destes postulantes ao Planalto. Indagados sobre quem seria o "mais simpático ou simpática", 29% escolheram Dilma, 28% optaram por Serra e 19%, por Marina.
Ou seja, há um empate técnico entre os dois primeiros e ninguém chega nem perto de atingir maioria absoluta.
Já quando é o caso de apontar o "mais antipático ou antipática", Serra fica na frente. O tucano é considerado o mais antipático por 27% dos eleitores. Dilma fica com 23% e Marina tem 11%.
Como a pesquisa foi realizada neste mês, Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha alerta para o fato de as campanhas não estarem totalmente à vista dos eleitores. ° (FR)
Quanto ao carisma, a Folha esqueceu de mencionar que Dilma é bem menos conhecida que seu adversário. Logo, se ela já o supera nesse item, é porque tem potencial de incrementar bastante sua popularidade.