19 de maio de 2010

"Iranizando" o dia

Passei a noite trabalhando no post anterior. Um trabalho hercúleo, como vocês poderão ver. Mesmo com muita vontade de fazê-lo, não tive tempo de escrever algo sobre a guerra do Irã. É, agora chamarei assim. Guerra do Irã. Porque a batalha já começou. Sempre tem início dessa forma, com um duelo de versões e contraversões. A guerra da informação é a primeira etapa nas guerras da modernidade.

Tenho a impressão, no entanto, que os EUA latiram alto demais, afoitamente demais, e sua voz deu em falsete. Tenho ainda sérias dúvidas sobre se as sanções serão aprovadas; e se forem, se serão respeitadas, ou compreendidas. O mundo quer paz. Lula mandou um sinal que atravessou os oceanos e está reverberando profundamente no coração de seis bilhões de macacos falantes.

Eu até comecei a vasculhar a mídia internacional. No site do governo chinês, encontrei um inteligente editorial elogiando o acordo. Neste outro, respeitável site americano, topei com um elogio eufórico.

O editorial (se pedirem cadastro, leiam por aqui) do Financial Times de ontem igualmente elogiou o esforço do Brasil como um corajoso gesto em favor da paz, explicando que, mesmo em caso de não dar resultado, terá valido a pena.

Quão diferentes são essas manifestações do sarcasmo mesquinho, leviano, com que um Arnaldo Jabor e toda a turma do Globo estão tratando os esforços diplomáticos brasileiros!

Eu queria ter tempo e habilidade (inclusive até tentei, mas apanhei muito; talvez tente novamente hj à noite) para legendar essa entrevista de Lula à rede Al Jazeera, feita há pouco, em que ele explica as razões que o levaram a se meter nesse imbróglio.

Temos os falcões da guerra nos Estados Unidos, e por aqui temos os urubus da guerra.

Agora mais que nunca é importante derrotar Serra, porque ele vai ajudar o Dick Cheney e a Hillary Clinton a patrocinarem outro massacre no oriente médio. É uma pena que Obama não ponha logo uma focinheira nos pitbulls da Casa Branca.

De qualquer forma, os urubus daqui estão subestimando ridiculamente o impacto que a façanha brasileira causou no mundo. Eles se apegam somente a manifestações da Mrs. Clinton, que representa justamente os interesses que o Brasil deliberadamente contrariou.

Peço-vos uma coisa, mais uma vez. Sei que vocês já sabem. Mesmo assim, repito: cuidado com a desinformação. Na guerra do Iraque, eu assisti a imprensa enganar toda a comunidade intelectual americana, inclusive a blogosfera de esquerda. Todo mundo comeu na mão de figurinhas sinistras como Paul Wolfowitz. O poder de comunicação do lobby armamentista e petroleiro é impressionante. Passados dez anos de guerra, já fizeram trocentos filmes sobre o tema, quase sempre tergiversando sobre a injustiça que cometeram. Este ano deram Oscar para um filme que glorifica um idiota que desarma bombas...

Incrível também o poder de convencimento sobre a juventude alienada. Ontem à noite viajei um pouco no Twitter atrás de informações sobre o Irã, e me deparei com várias manifestações grotescas como essa:



Os iranianos viraram terroristas! As pessoas ficam totalmente desequilibradas nesses momentos de adrenalina guerreira. Há um aspecto maligno na natureza humana que gosta de sangue, guerra, violência. Até pouco tempo, todo mundo sentia compaixão pelos iranianos, por causa de seus problemas políticos, agora as mesmas pessoas os consideram terroristas e defendem sanções que levarão sofrimento e miséria para milhões de seres humanos.

O assunto promete muitas emoções nos próximos dias.  Eu estarei aqui, guerreiro liliputiano, enfiando minha lança verbal, freneticamente, no pé desse Leviatã medonho, que não desiste de destruir o mundo.

10 comentarios

jozahfa disse...

Penso que uma guerra contra o Irã, caso aconteça, será a pior depois da (ou pior que a) segunda guerra mundial. Uma desgraça inimaginável. Espero que a humanidade não caia nessa.

Daniela disse...

olá Miguel,

faz sentido chamar de guerra de vez que é o que os EUA querem, ou melhor, alguns de seus governantes.
Só digo pra você chamar de guerra NO Iran, o mesmo com Iraque, já que usando DO confirma-se a interpretação de que a guerra é destes países e não dos EUA. O certo seria guerra dos Eua no Iran...

contato disse...

Essa direita brasileira nao tem memória. Nao lembram o que o Brasil passou quando resolveu assinar o Acordo de Cooperação Nuclear com a Alemanha? Lembro bem do pastor Jimmy Carter falando em direitos humanos no Brasil ... Gostam de interferir na vida dos outros, seja pra manter o seu privilégio de ter armas atomicas, seja pra liçoes de moral.

obede disse...

Caríssimo,
parabéns!!! É muito difícil falar de futuro, quando os poderosos só querem mostrar o passado. O discurso do medo é muito eficaz quando ministrado àqueles que não tem maturidade ou nem sequer preocupam-se com isto. Parece que a criança Brasil está na sua adolescência e é chegada a hora tomar decisões acerca do cenário internacional, além de preocupar-se com a ordem de sua própria casa, contudo oportunistas dentro e fora do nosso país demonstram claramente que não nos querem como futuros agentes ativos na interação de forças e esforços diplomáticos com vistas a um mundo melhor, onde as relações internacionais sejam guiadas pela soberania e vontade de cada povo e não pela ameaça de uma nação cuja as maiores industrias sejam as bélica e petrolíferas

Patrick disse...

Miguel, uma sugestão sobre as legendas. Pode não ser a solução mais fácil, mas acho que funciona. Baixe o vídeo e suba para o youtube. Com um pouco de sorte (sim, infelizmente é essa mesmo a palavra), o youtube vai reconhecer o vídeo como sendo do idioma inglês. Você pede então pra ele fazer o legendamento automático (em inglês). Daí é só baixar esse arquivo, que estará com as falas perfeitamente minutadas, e traduzi-lo ao português. Traduzido, é só fazer o upload (do arquivo de legenda traduzido) de volta pro youtube.

Galvão disse...

É a união da indústria bélica dos EUA, com os Sionistas. O que no fundo pode ser a mesma coisa; não se conterão enquanto não destruir o povo palestino - em particular, e os árabes (muçulmanos) de modo geral. Ódio gera ódio. E a cada dia mais o povo árabe (muçulmanos) se sentirá vitima de preconceito e perseguição. Os atentados terroristas se sucederão. É a prova de que muda pouco nos EUA a eleição de um republicano, ou de um democrata: quem manda mesmo é as corporações, e elas estão dominadas pelo poderio financeiro dos Judeus. A solução final que Hitler planejou contra eles; está sendo posta em pratica por eles, contra os árabes (muçulmanos).

IV Avatar disse...

Depois da vitória em Honduras os golpistas estão cada vez mais ouriçados, aqui e lá,,por aqui a Justiça Eleitora, mais a mídia mais o DEM dos 600 corruptos cassados aplica multa atra´s de multa em Lua e Dilma
Já Zé Serra paga uma multidão de motoqueiros para segui-lo e fica por isso mesmo

Lamparina disse...

Olá Miguel. Eu fui seu companheiro no fracassado Sindicato dos Blogueiros. Passo sempre por aqui pra ler tuas notícias e teus comentários sempre oportunos. Na minha modesta opinião, acredito que as superpotências não querem paz, pois dela não retiram os frutos que as guerras lhes proporcionam, além é claro do domínio máximo e absoluto das riquezas que a conquista do pós-guerra oferece ao vitorioso. Os senhores da guerra dominaram o ópio afegão, o petróleo iraquiano, provavelmente avancem em qualquer tempo para o Venezuelano e depois, já que estão mesmo pelas redondezas, resolvem tomar de assalto também as nossas reservas florestais e minerais. Para o PIG não mudará nada, continuarão sendo a voz de Washington, mas nós brasileiros temos muito o que perder. Melhor que continuemos então na luta. Abraço!!!

Anônimo disse...

Pra não dizerem que estamos viajando qdo criticamos os americanos qto a sua voracidade para a guerra, quem tiver oportunidade leia o livro de : Fred J Cook ( O Estado Militarista). A economia de guerra iniciada antes do fim da 2ª guerra persiste até hoje. " Os grandes grupos financeiros dos EUA estão voltados para uma incessante corrida armamentista e para o fomento da Guerra Fria, que lhes fornecem condições de alta rentabilidade em seus investimentos e de plêno emprêgo de mão de obra disponível no país, que além de criarem um série de zonas de atrito que, dificultando a conquista da paz mundial efetiva, " contêm o avanco do comunismo" e propriciam a penetração tranquila de seus capitais e técnicas em tôdas as regiões subdesenvolvidas". Isto foi escrito por volta de 1962- 5ª edição do livro. Naquela época a grande desculpa pra se meter na vida de todos os países éra o tal do comunisno, este já não existe, mas eles criaram outro " ISMO" pra justificar a sua sanha por lucros e poder, agora é a vez do terrorismo. São milhões de vidas que se perdem para satisfazer os interesses dos gananciosos senhores da indústria da morte. Até qdo as familias americanas continuarão dando seus filhos pra morrerem por esta causa???

Anônimo disse...

Adoro os textos do odd. Parabens.

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