30 de maio de 2010

Ovos & café 1

Inicio os trabalhos sem muita inspiração. A melhor coisa a fazer nesses momentos é seguir a rotina. Então façamos o trabalho básico de análise da mídia. Separo algumas matérias e comento.


No Painel da Folha

Ataque especulativo

Ciente de que a subida de Dilma Rousseff nas pesquisas desacelerou a aproximação do PP com os tucanos, o PT fixou como prioridade da reta final da pré-campanha abortar essa aliança, que daria a José Serra mais um minuto e meio no horário eleitoral gratuito. No comando da campanha de Dilma, já não se fala apenas em garantir a "neutralidade" do PP, mas em -por que não?- tentar a composição formal.

Pós-Datafolha, vários pepistas que vinham sinalizando preferência por Serra reformaram o discurso. Para dar um empurrãozinho nos indecisos, o PT lembrará que, sem apoio formal, o PP pode rodar na hora da partilha dos ministérios, em caso de vitória.

Assombração Por mais enfáticas que sejam as negativas públicas e privadas de Aécio Neves, o Planalto e o PT ainda não se tranquilizaram de todo. O medo de que o ex-governador de Minas venha a aceitar ser vice na chapa de Serra é real -e supera qualquer outro.

tiroteio "A direção do PTB deu a Serra o tempo de TV. Mas a bancada do partido dará a Dilma os votos de que ela precisa."

DO LÍDER PETEBISTA NA CÂMARA, JOVAIR ARANTES (GO), em resposta ao tucano, segundo quem a aliança firmada com Roberto Jefferson não resultará em loteamento de cargos para a sigla em seu eventual governo.


A primeira e a terceira nota sinalizam que, de fato, aquele Datafolha que pôs Serra à frente de Dilma num momento em que outros institutos já previam empate, tinha como objetivo facilitar o fechamento de acordos partidários ao PSDB, permitindo-lhe alcançar tempo maior de TV, um elemento fundamental para tornar a oposição competitiva. Com a reviravolta provocada pelo empate em todas as pesquisa (inlusive Datafolha), o PP volta a se aproximar de Dilma e o PTB, embora já tenha entregue seu tempo de TV à campanha de Serra, começa a enfrentar graves dissidências internas. A declaração do líder petebista na Cãmara, Jovair Arantes, prova isso. O poder de Roberto Jefferson sobre o PTB tem algo de mistério, visto que ele se tornou um personagem obscuro, odiado pela midia, pelas massas cheirosas e pela classe média progressista. Mesmo isolado, mesmo o PP sendo um partido que compõem a base do governo Lula na Cãmara e no Senado, Jefferson manteve o cargo de presidente do partido, e agora, contra a vontade de grande parte dos petebistas decidiu entregá-lo, qual fosse propriedade sua, para a campanha do PSDB.

Se Dilma conseguir o apoio do PP, ganhará importantes minutos de tv, distanciando-se ainda mais de Serra nesse quesito, onde ela já tem larga vantagem.

Sobre a segunda nota, que fala de Aécio, a matéria me parece mais uma das dezenas de iscas que a imprensa vem jogando ao ar na tentativa de pescar a ambição do governador mineiro.

*

Em entrevista para o Globo deste domingo, Aécio enterra de vez a possibilidade de ser vice de Serra. Caso mude de idéia no futuro, será taxado de instável.  Achei a entrevista com relevância suficiente para transcrevê-la na íntegra, abaixo. Comento entre colchetes.

ENTREVISTA Aécio Neves

Aécio diz que desde dezembro decidiu que não seria vice, mas que será o mais empenhado pela eleição de Serra

Preterido pelo PSDB na disputa pela vaga de candidato a presidente, o exgovernador Aécio Neves ocupou, nos últimos dias, o posto de um dos principais personagens da campanha tucana rumo ao Planalto. Especialmente depois que o presidenciável José Serra perdeu a dianteira nas pesquisas de intenção de voto, o que desencadeou uma nova ofensiva dentro e fora do PSDB no sentido de convencê-lo a ser o vice da chapa. Mesmo após três semanas de férias no exterior e sob pressão, ele resiste à ideia e afirma, nesta entrevista ao GLOBO, que não será vice de Serra. Para se justificar, apresenta números de pesquisas do PSDB indicando que sua presença na chapa presidencial tucana garantiria, no máximo, acréscimo de 5% nas intenções de votos em favor de Serra. A seguir, trechos da entrevista, feita na sexta-feira à noite, por telefon

[Hummm, não creio nesse entusiasmo todo por parte de Aécio. Se estivesse tão engajado não teria desaparecido por três semanas num momento tão crucial como este, em que há várias alianças ainda incertas quando a que rumo tomar.]


Adriana Vasconcelos

O GLOBO: O senhor diz que política é destino, e o seu parece que está lhe empurrando para ser vice de Serra. Isso pode ocorrer?
AÉCIO NEVES: No ano passado, apresentei ao meu partido uma alternativa de candidatura presidencial. No momento em que percebi que uma maioria partidária caminhava na direção da candidatura do governador Serra, fiz um gesto em favor da unidade, que foi abdicar desta candidatura. Acima de projetos pessoais deve haver algo, hoje em falta na política, que é uma visão patriótica. Em dezembro anunciei minha candidatura ao Senado. De lá para cá, nada mudou, nem minha convicção de que Serra é o melhor candidato para vencer as eleições, e que como candidato ao Senado tenho mais condições de ajudá-lo.

[A repórter se junta ao clamor midiático para Aécio ser vice do Serra. Essa estratégia, conforme vários tucanos já perceberam, apenas serve para produzir pequenas derrotas diárias ao candidato, forçando-o a uma agenda puramente negativa, onde um de seus correligionários passa a imagem de um político recalcitrante.]

Não teme ser responsabilizado por uma eventual derrota de Serra?
AÉCIO: De forma alguma. Na vida devemos ter convicções e lutar por elas. Precisamos fortalecer diariamente nossas convicções e resistir às pressões que nos afastam delas. Estou absolutamente seguro de que tomei a melhor decisão, pensando no meu país.

Que fato poderia levar o senhor a mudar de ideia?
Há quem diga que o fato de o gover nador Anastasia estar atrás nas pesquisas... AÉCIO: Quando retornei (das férias), me deparei com uma grande confusão entre opinião e análise. E com três fatos que me eram colocados à frente. O primeiro de que a eleição se definiria em Minas. Qualquer análise pode mostrar que a eleição pode ser definida no Nordeste, que tem 27% do eleitorado. Minas tem 10%. O segundo fato é que a má situação de Anastasia poderia me fazer mudar de opinião. O governador tem 25% de conhecimento e, na pesquisa espontânea, tem os mesmos 5% de intenções de votos de seu adversário. É uma situação extraordinária, e estamos preparados para vencer no primeiro turno. A terceira, de que minha candidatura a vice seria fundamental para eleger Serra. Tenho pesquisas que mostram que isso poderia aumentar em no máximo 5% as intenções de votos em favor de Serra em Minas.

Mas já ajudaria...
AÉCIO: Isso significa meio por cento dos votos nacionais e com risco de desguarnecermos a nossa retaguarda e termos outras perdas, se eu não estiver em Minas. Não haverá no meu partido ou fora dele alguém tão dedicado à vitória de Serra.Temos o melhor candidato e condições para vencer em Minas e no Brasil.

O empate entre Serra e Dilma pesou na sua decisão?
AÉCIO: Minha decisão foi tomada em dezembro, quando Serra tinha uma vantagem expressiva em todas as pesquisas. É preciso haver mais serenidade por parte dos nossos próprios companheiros. Vejo uma ansiedade excessiva.

A subida de Dilma confirma o poder de transferência de votos de Lula?
AÉCIO: Reconheço que o governante bem avaliado tem algum poder de transferência de voto. E servirá, certamente, para o nosso caso em Minas. Mas essa transferência é limitada. Quem define a eleição não são os apoiadores, é o eleitor.

Que outras opções Ser ra tem para vice?
AÉCIO: É uma questão que tem de ser vista com serenidade. Existem alternativas dentro do partido, como o senador Tasso Jereissati, ou mesmo dentro da coligação. Não é isso que vai mudar o rumo da eleição.

O senhor ainda acredita num distensionamento entre PT e PSDB no futuro?
AÉCIO: Acredito. Acho que vai chegar um momento em que vamos perceber que temos mais identidade do que imaginamos, e que hoje o que nos separa mais profundamente é a disputa pelo poder. Mostramos em Belo Horizonte, quase como um laboratório, que é possível construir um projeto conjunto em favor de uma cidade. Acho que a sociedade brasileira aprovaria a construção de um projeto em que o PT e o PSDB pudessem fazer parte.

Pelo papel que o senhor está tendo nesta eleição, dá para dizer que os mineiros poderão ter um candidato à Presidência em 2014?
AÉCIO: Não projeto o futuro com tanta antecedência. Durante oito anos fomos o governo mais bem avaliado do país. Agora estou engajado em outro projeto. Se eu não tivesse convicção da capacidade de Serra de governar o país, talvez estivesse até hoje na disputa.

[Repórter esqueceu que Dilma é mineira...]

O PT e o PMDB estão encomendando pesquisa para definir seu candidato à sucessão mineira. Quem daria mais trabalho para Anastasia: Fernando Pimentel ou Hélio Costa?
AÉCIO: Não posso me intrometer na discussão que está no outro campo. Tenho boa relação com ambos, mas tenho um enorme compromisso com Minas e não tenho a menor dúvida ao afirmar que, para Minas, a melhor alternativa é Antonio Anastasia. Os mineiros saberão fazer a opção. Estou confiante que Anastasia continuará governando pelos próximos quatro anos, qualquer que seja o seu adversário.

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