Fui no site do próprio Vox Populi e recortei um trecho da pesquisa que mostra uma das realidades descritas por Coimbra, diretor do instituto. Confiram o gráfico com atenção, eu continuo em seguida.
Pelo que você sabe ou já ouviu dizer qual destes é o(a) candidato(a) a Presidente da República que tem apoio do Presidente Lula? (clique na imagem para vê-la por inteiro).
Repararam? Quanto mais pobre é o eleitor, menos ele sabe que Dilma é a candidata apoiada por Lula. E a televisão brasileira está sonegando essa informação, que é fundamental para o eleitor se posicionar politicamente. Todo mundo sabe que os índices de popularidade do presidente, forte em todas as faixas de renda, são especialmente incríveis junto ao povão humilde.
Vejo no blog do amigo Eduardo Guimarães que ele não aprovou a propaganda do PT na TV, mas eu contraponho uma declaração recente do ministro responsável por relatar no Tribunal Superior Eleitoral as regras das eleições de outubro, Arnaldo Versiani:
"Eu, sinceramente, sou do ponto de vista de que a propaganda deveria ser permitida, e até ser estendida. O período eleitoral propriamente dito, após 5 de julho, talvez seja muito curto. (...) Quanto mais propaganda, quanto mais a gente pudesse conhecer os candidatos, melhor seria".
A verdade é que a lei eleitoral no Brasil é confusa e atrasada. Conforme as democracias amadurecem, os eleitores fazem suas escolhas com cada vez mais antecedência. Os partidos estão umbilicalmente ligados ao coração político da sociedade. É espontâneo. As pessoas demandam informações, os políticos suprem essas informações. Querer calar a boca dos partidos e representantes políticos, ou seja, dos próprios líderes populares oficiais, cujo poder lhes foi entregue pelo povo justamente para que eles tivessem facilidades para divulgar idéias, não me parece coerente com quem vive falando em liberdade de expressão.
O entendimento do que é ou não propaganda se torna tênue muitas vezes. Afinal, na boca de um partido, tudo é propaganda partidária.
O que estou vendo é a oposição (cujo núcleo duro encontra-se na mídia corporativa, não nos partidos) fazer de tudo para bloquear a informação mais importante hoje: a de que Dilma é a candidata de Lula. Eles não querem que o povo saiba. Estão sonegando isso, e o PT, naturalmente, quer divulgar isso. É fundamental para o PT divulgar isso, porque o partido quer trazer o povo para a campanha. O PT quer politizar as massas, e isso é uma iniciativa excelente. Existe uma lei eleitoral no país, mas também existem várias formas de entender essa lei, e existe, sobretudo, o espírito dessa lei, que nunca foi nem poderá ser manter o eleitor desinformado sobre uma realidade política. Porque é disso que se trata, de uma realidade política, da qual muitas pessoas estão sendo alijadas por esta odiosa campanha contra a informação.
Pessoas da classe média, como eu e Eduardo Guimarães, sabemos quem é Dilma, e o papel que ela teve no governo; essa informação, portanto, não nos parece tão valiosa a ponto de nos arriscarmos a tomar uma multa divulgando-a na TV. Agimos como o cafajeste que não dá mais valor à mulher com a qual já fez sexo.
Imensa parte da população, todavia, não teve acesso a esse bem, a esse tesouro, a essa riqueza imaterial que é a informação mencionada. É um bem de valor incomensurável, porque unicamente ele tem o poder de deflagrar a liberdade política. Somente através da posse desse bem, da informação (no caso, sobre quem é Dilma, e quem é Serra), o cidadão poderá engajar-se politicamente no processo eleitoral, entre seus familiares, vizinhos e colegas de trabalho. É um bem crucial porque apenas ele produz o homem político ativo. Sem informações políticas básicas, o cidadão é apenas um receptáculo passivo de idéias alheias.
Não se trata, portanto, de propaganda eleitoral, mas de informação política, que permite ao cidadão pobre engajar-se da mesma forma que eu e o Eduardo estamos nos engajando. O PT tem sim que informar à população que Dilma é a continuação de Lula, e que Serra pertence ao governo Fernando Henrique.
Se os âncoras de televisão não estão interessados em deixar claro para a população, em linguagem popular e acessível, que Dilma Rousseff é a única candidata apoiada pelo presidente Lula, e que José Serra pertence a uma oposição que sempre combateu, agressivamente, os projetos do governo federal, o PT deve suprir essa lacuna e levar a informação ao cidadão brasileiro.
Essa informação não pode ser transmitida de forma "sutil". Aí não adianta nada. A linguagem que às vezes parece exagerada ou agressiva para a classe média ultrainformada e politizada, às vezes é a única capaz de falar à população pobre, quase analfabeta, mas que vale, enquanto cidadãos, tanto quanto qualquer culto leitor de blog.
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Enfim, já que citamos o Vox Populi, publico abaixo outro gráfico da última pesquisa do instituto que merece um comentário. Como sempre, clique na imagem para vê-la por inteiro.
INTENÇÃO DE VOTO ESPONTÂNEA
Se a eleição para Presidente da República fosse hoje, em quem você votaria?
Repare que, entre as pessoas que ganham até 1 salário mínimo, 21% optaram por Lula e 16% por Dilma, contra 6% de Serra. Ou seja, Lula e Dilma, somados, tem 37%, uma diferença de 31 pontos percentuais sobre o tucano! Entre a turma que ganha de 1 a 5 salários, há uma diferença parecida em favor dos petistas. É essa a candidatura que, segundo sábios de longos bicos, "continua patinando"?
E não venham falar que não haverá transferência de voto. Ela já está ocorrendo, de forma avassaladora. Dilma nunca teria empatado com Serra, conforme apuraram Vox Populi e Sensus, e inclusive o Datafolha (há duas pesquisas atrás o Datafolha encontrou uma diferença de apenas 4 pontos entre os dois principais candidatos), não fosse a transferência maciça que está ocorrendo de Lula para Dilma. Tanto existe transferência que Dilma está bastante à frente de Serra no Nordeste.
A midia não conseguirá bloquear a informação por muito tempo. Quando a população, sobretudo os mais pobres, souberem a responsabilidade direta que Dilma Rousseff teve na condução do governo que melhorou suas vidas de forma extraordinária, a "terrorista búlgara" irá disparar nas pesquisas.
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Abaixo o artigo mencionado.
A caminho da eleição
por Marcos Coimbra, em Carta Capital
Há uma diferença que assume, neste ano, maior proeminência: a existente entre os que conhecem os candidatos e os que (ainda) não sabem quem são
Os eleitores podem ser divididos e agrupados de várias maneiras. Podemos falar de distinções demográficas, de gênero ou idade, por exemplo. Ou de diferenças socioeconômicas, como as que existem entre as pessoas em função de renda, escolaridade ou situação ocupacional.
A diversidade regional é importante. Na última eleição, houve uma nítida geografia no voto, com o Sul indo para um lado e o Norte/Nordeste para outro. Nesta, algo parecido acontece, ao menos por hora, com José Serra à frente onde Geraldo Alckmin havia ido bem e Dilma Rousseff se distanciando nos lugares onde Lula venceu.
As variações entre cidades pequenas e grandes, especialmente as metrópoles e as capitais, fazem parte de nosso folclore político. No interior, votava-se mais à direita, enquanto o voto urbano tendia a ir mais para candidatos de esquerda e para as oposições. Em seus primeiros anos, isso acontecia claramente com o PT. Hoje, mudou.
Todas essas diferenciações jogam seu papel nestas eleições. Olhando as pesquisas, vê-se que existem diferenças entre o que pensam fazer homens e mulheres, nordestinos e sulistas.
Mas há uma diferença que assume, neste ano, uma proeminência maior que no passado: a que existe entre os que conhecem os candidatos e os que (ainda) não sabem quem são. Essa é uma dimensão sempre fundamental na interpretação das pesquisas pré-eleitorais, mas nunca foi tão importante quanto agora.
A razão para isso é simples e tem a ver com três fatores. Primeiro, que temos um presidente que termina seu mandato com uma aprovação popular que nunca houve em nossa história. Segundo, que esse presidente indica uma candidata e assegura que ela encarnará a continuidade de seu governo. Terceiro, que ela é pouco conhecida, pois só existe, por enquanto, uma candidatura (até pouco tempo atrás, duas) que os eleitores conhecem bem.
Ao contrário das outras diferenciações, a do nível de conhecimento dos candidatos tende a desaparecer ao longo da campanha. À medida que ela avança, a desinformação cai, se aproximando de zero, enquanto se amplia a informação. No dia da eleição, teremos, desejavelmente, o universo de eleitores em condições semelhantes de escolha: todos podem optar entre todos os candidatos, pois têm deles um conhecimento parecido.
Enquanto estivermos distantes dessa situação de homogeneidade, as pesquisas de intenção de voto devem ser lidas com cuidado. Não que sejam menos válidas, mas por misturarem pessoas diferentes em um aspecto essencial da eleição.
É possível, no entanto, contornar esse problema. Basta considerar, em separado, as respostas dos que conhecem e dos que não conhecem os candidatos, de quem sabe e quem não sabe que Dilma é a candidata indicada por Lula. É o mesmo que se faz para comparar o que pensam jovens e velhos, ricos e pobres, moradores de áreas rurais e urbanas e todas as outras diferenciações.
Na última pesquisa publicada do Vox Populi, feita há um mês, a intenção estimulada de voto (considerados apenas três candidatos) do conjunto dos entrevistados foi de 38% para Serra, 33% para Dilma e 7% para Marina. Nesse resultado médio estão, naturalmente, tanto as repostas das pessoas que acertaram a identificação de Dilma como candidata do presidente quanto das que erraram ou não souberam fazê-lo.
Quando, porém, se analisam separadamente as intenções de voto dos dois segmentos, vê-se um quadro diferente.
A tabela mostra que, se levarmos em conta as intenções de voto dos eleitores que sabem que Dilma é a candidata de Lula (que são 70% do total), ela está 11 pontos porcentuais na frente de Serra. O ex-governador lidera no agregado apenas por ter uma imensa vantagem, de 43 pontos, entre os eleitores que não sabem quem ela é (e que são 30% do universo).
Um dia, esses que não sabem vão desaparecer e todos (ou quase todos) vão saber. Para Dilma, a boa notícia é que os que não a conhecem são ainda mais propensos a votar nela que os que já o fazem. Para Serra, só haverá boas notícias se tudo que está em curso mudar.
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