23 de maio de 2010

A internet nas eleições presidenciais

Interessante essa matéria no Estadão. Por isso que eu digo, e estou falando sério, que ainda acredito na imprensa. Se ela botassse de lado essa loucura ideológica, superasse essa fobia anticomunista, essa mania de ver bolcheviques embaixo da cama, dentro do armário, em toda parte, e se limitasse a participar de forma transparente dos debates... Querem ser conservadores? Ótimo. Isso abre mais espaço para a blogosfera de esquerda. Mas sejam francos e honestos. Em vez de falarem tanto em ética, exerçam-na.

Voltando à matéria, destaco as informações mais interessantes:

  1. 25% dos domicílios brasileiros têm internet, ou 13,5 milhões de casas. 
  2. No Nordeste, apenas 13% dos lares tem internet. 
  3. Acesso à internet em famílias com renda de 1 a 2 salários mínimos cresce a média anual de 69%
  4. 2% dos internautas acessam páginas com o conteúdo político. Nos EUA, são 9,8%.

Vamos analisar melhor o item 4. Se apenas 2% dos internautas acessam páginas políticas, então... se considerarmos que num lar apenas uma pessoa acessa internet (numa estimativa conservadora), teremos mais ou menos 270 mil pessoas participando da blogosfera política nacional.

A reportagem, porém, aborda somente a questão eleitoral. Eu, por exemplo, não escrevo por causa das eleições. Elas me influenciam, mas não é a razão que me move. Meu blog existe desde 2004, tem 1.710 postagens. As eleições e a própria evolução econômica-tecnológica estão trazendo mais gente à rede, e isso, admito, me empolga. Continuarei escrevendo após as eleições, ganhe quem ganhe, porque uso o blog para divulgar idéias e escrever, pelos mesmos motivos que um médico se diverte escarafunchando as vísceras de alguém ou um engenheiro passa décadas pesquisando motores. Sentido, sentido mesmo, a gente nunca tem. A vida é meio louca e a gente se acostuma. Como dizia Fernando Pessoa, "desfraldando ao conjunto fictício dos céus estrelados, o sentido nenhum da vida..."

Acho que essas 270 mil pessoas lendo blogs políticos constituem uma ótima base para a gente desenvolver uma massa intelectual crítica. Como já existe, aliás. Se o número de internautas de baixa renda cresce 70% ao ano, em pouco tempo teremos a maior parte da população brasileira acessando a rede. Aí sim, a blogosfera poderá fazer a diferença numa eleição.

O público de blogs políticos, por sua vez, tem um potencial gigantesco mesmo sem ampliação do número de internautas. E provavelmente esse percentual de 2% já deve estar crescendo, em virtude das eleições. Deve crescer ainda mais até outubro, e as pessoas tenderão a continuar entrando nos blogs que descobriram. São conjecturas, para mim, bastante plausíveis.

De minha parte, preciso apenas resolver o dilema financeiro. Eu não trabalho em TV, não sou ex-funcionário de grandes empresas, não trabalho em comércio exterior. E não porque eu quis, mas porque a minha vida foi outra. Sempre trabalhei como autônomo, junto com meu pai, que tinha uma newsletter especializada em café. Ele morreu, eu continuei a tocar a empresa por vários anos. Até que a empresa faliu. E até que eu, admito, cansei de escrever sobre café. Queria expandir meus horizontes. Para crescer nesses segmentos muito restritos, você tem que ficar amigo de todo mundo, desenvolver relações pessoais, e eu não queria enveredar por esse caminho. Não era meu perfil. Se meu pai não tivesse morrido, tudo seria mais fácil. Mas ele se foi e eu tive que me virar por conta própria.

Mas até que a coisa está andando. As pessoas estão assinando a minha Carta Diária, e gostando do serviço. Alguns fazem doações ao blog. No dia em que o número de pessoas que acessam sites de conteúdo político no Brasil chegar a 5, 7, 10, 20 milhões, quem sabe eu não poderei alcançar a tão sonhada independência financeira?

Ah, abaixo a tal matéria no Estadão de hoje (domingo). Falei tanto que já ia esquecendo dela.


Uso da internet ainda é desafio para partidos

PT e PSDB apostam nos militantes virtuais e centralizam comunicação para guerra virtual, mas persistem dúvidas sobre eficácia das estratégias

Malu Delgado e Julia Duailibi

O papel da internet na eleição presidencial no Brasil ainda não será decisivo, avaliam coordenadores de comunicação das pré-campanhas e especialistas. Mas é a batalha ideológica já aguerrida na rede que municiará e mobilizará militantes para o debate nas ruas.

Justamente pela internet ser vista como instrumento político valioso para preparar a militância é que as equipes dos pré-candidatos José Serra (PSDB), Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV) começaram a montar seus núcleos de comunicação digital.

Nos bastidores, o PSDB já contabiliza um exército informal de pelo menos dez mil militantes. O PT, só em São Paulo, já tem quase mil "soldados" atuando diariamente na rede. O partido, com mais de um milhão de filiados, acredita no efeito virtual multiplicador da militância.

PT e PSDB terão ainda equipes especializadas pagas para atuar na campanha digital. Dirigentes das duas legendas temem um certo "descontrole" na linguagem e conteúdos de blogs e redes sociais dos candidatos. Por isso, passaram a centralizar a comunicação na internet.

No PSDB, o núcleo duro da internet é formado por dez pessoas. As iniciativas, antes pulverizadas, foram unificadas, na semana passada, sob a coordenação do jornalista Marcio Aith.

No PT, a comunicação é coordenada por Rui Falcão, vice-presidente da sigla. O partido decidiu separar a mobilização nas redes sociais, a cargo de Marcelo Branco, da comunicação institucional produzida para a internet.

Efeito Obama. No ano passado, tucanos e petistas flertaram com estrategistas da campanha do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, na rede. Ben Self, da Blue State Digital, veio ao Brasil e foi cortejado por ambos os partidos como conselheiro. Acabou fechando com o marqueteiro do PT, João Santana.

"Vendeu-se aqui o mito da internet, e alguns brasileiros compraram. Achavam que a internet elegeu Obama, quando na verdade quem elegeu Obama foi o próprio Obama", afirma Sérgio Caruso, integrante do núcleo tucano. "Ainda é uma incógnita quantos votos vão virar ou se posicionar por uma ou outra candidatura a partir do e-mail que recebem, ou do que estão lendo no Orkut", diz Marcelo Branco.

"A internet não faz um candidato ganhar ou perder", sentencia o secretário nacional de Comunicação do PV, Fabiano Carnevale. Porém, acrescenta, as manifestações criativas na rede podem seduzir eleitores e desafiar a lógica dos marqueteiros.

O PV, até o momento, aposta mais fichas na mobilização apartidária. O Movimento Marina, criado por não filiados, já tem 19 mil integrantes. Ainda assim, a sigla terá um núcleo digital composto por cerca de 40 pessoas.

"Todo mundo está superestimando o poder da web na conquista de votos. Os sites reforçam convicções que as pessoas já têm", declara Marcelo Coutinho, professor da FGV-SP e autor de um estudo sobre o uso de novas mídias na campanha presidencial de 2006.

Para Tiago Dória, jornalista e pesquisador de mídia, o efeito Obama não vai se reproduzir no Brasil. "Não tem como comparar o poder da internet nos Estados Unidos com o Brasil." Segundo ele, a internet, se bem usada, pode angariar simpatizantes não partidários. A tendência no Brasil, diz ele, é que a campanha seja menos propositiva e que os boatos sejam constantes.

Os partidos temem o efeito do bate-boca na rede. Os estrategistas do PSDB citam a forte campanha virtual em 2006 contra o então candidato Geraldo Alckmin. À época, circularam e-mails dizendo que o tucano faria privatizações se eleito. "Isso contaminou e pegou na veia", diz Marcelo Vitorino, estrategista de marketing digital que poderá integrar a campanha de Serra.

"A estratégia de usar a internet para a campanha negativa, o que tem acontecido com o PT e o PSDB, é uma furada. É mais do mesmo. O grande barato da internet é atingir um grupo heterogêneo de pessoas", pondera Carnevale. Para ele, o bombardeio de e-mails de militantes não é eficaz para definir o voto do eleitor.

Abrangência. O baixo grau de politização do brasileiro, aliado às limitações sócio-econômicas que reduzem a abrangência da internet, explica, segundo especialistas, a predominância da guerrilha virtual. Levantamento da comScore, empresa que mede audiência da internet em mais de 40 países, mostra que no Brasil só 2% dos internautas acessam páginas com o conteúdo político. Nos EUA, são 9,8%.

Dados do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br) mostram que só 24% dos domicílios brasileiros têm acesso à internet - cerca de 13,5 milhões de casas no final de 2009. Esse porcentual é ainda menor no Nordeste e no Norte (13%).

Por outro lado, é nas classes populares que o acesso à internet mais cresce. "O Nordeste é o local onde há o maior porcentual de internautas integrando redes sociais", afirma Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br. As informações apontam, por exemplo, que o acesso à internet em domicílios de famílias com renda de 1 a 2 salários mínimos cresce a uma média anual de 69%.

"As classes de renda mais baixa estão mais conectadas do que estavam na eleição de 2006", diz Sérgio Amadeu, pesquisador de cibercultura e professor da Universidade Federal do ABC.

*

Recorto um trecho de comentário que peguei lá no Nassif, num post que reproduz justamente a matéria acima. É uma manifestação de Claudio Leite, especialista em marketing virtual:


" (...) A matéria fala que são só, enfatizando a palavra que serve para dizer que é pouco, 24% dos domicílios brasileiros com Internet, mas a matéria não fala que a mesma pesquisa do CETIC mostra que mais de 50% da classe C, 79% da Classe B e 90% da Classe A estão na Internet, que 52% navegam todo dia, e que o brasileiro já passa 3 X mais tempo na Internet que na televisão.
Fiz um estudo que mostra que 18% dos votos serão decididos na Internet (...)"

3 comentarios

Anônimo disse...

A matéria fala que são só, enfatizndo a palavra que serve para dizer que é pouco, 24% dos domicílios brasileiros com Internet, mas a matéria não fala que a mesma pesquisa do CETIC mostra que mais de 50% da classe C, 79% da Classe B e 90% da Classe A estão na Internet, que 52% navegam todo dia, e que o brasileiro já passa 3 X mais tempo na Internet que na televisão.

Fiz um estudo que mostra que 18% dos votos serão decididos na Internet,e uma maratona que mostrou que os candidatos a presidência não estão de fato usando o Twitter, pois sequer respondem às perguntas do eleitorado.

Como digo em meus seminários “Nenhum candidato vai ganhar a eleição por causa da Internet, mas muitos vão perder porquê não usaram”.

Os assessores dos candidatos entrevistados tem uma visão estreita, e provavelmente, porquê não se prepararam para trabalhar na Internet, preferem acreditar que nada está acontecendo. Ignorar o eleitor que irá discutir, debater e decidir seu voto através da Internet, é a melhor saída para eles.”

http://www.claudiotorres.com.br/

heliojesuino disse...

Mete bronca Do Rosário, teu blog tá ótimo. Gosto da emoção que vc não enxuga do teu texto e da coragem com que vc se expõe.

e se não estivesse tão duro já tinha assinado a carta diária.
Tem nada não, dia$ melhore$ virão para nosotros.

abração

Anônimo disse...

Como é mesmo Estadão,,,os partidos não estão nem ai para a campanha na internet,,,
O Marcelo Branco esteve em Goiânia e promoveu uma reunião com os blogueiros e militantes.
O PSDB destaca o Márcio Aith da linha Micheletti para assessorar a área de internet, além do Eduardo Graef também barra pesada na área do jogo sujo
Mesmo assim os partidos não estão nem aí
Conversa fiada esta

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