Vamos mudar de assunto. Dever de casa: análise da mídia. Comecemos pelo Globo. Gostaria de lançar um alerta aos coordenadores da campanha de Dilma Rousseff. Não falem em aumento de imposto, pelo amor de Deus. O que o país precisa é de uma boa reforma tributária, a la Robin Hood, que tire dos ricos e dos bancos e facilite a vida da classe pobre e média. Minha mãe vive de sua aposentadoria de professora do município. Ganha pouco, e mesmo assim há anos é perseguida pelas receitas do governo federal, estadual e municipal. Quando um candidato menciona a possibilidade de elevar ou criar um novo imposto, cria-se um enorme temor junto a esse eleitorado, que é numeroso. A classe média hoje, não se esqueçam, já é maioria da população brasileira.
Dilma, a meu ver, cometeu um erro político em sua entrevista desta segunda-feira à CBN. Ela foi bem em tudo, menos nessa ameaça, ainda mais desnecessária porque vaga, abstrata, sutil, de um possível aumento da carga tributária. A oposição estava atrás de um novo rabo para colar na candidata, de preferência algo que fugisse às baixarias tradicionais. Encontrou agora. Vão dizer que Dilma defende o aumento dos impostos. O Globo não perdeu tempo e botou na capa:
O erro só não foi grave porque ela tergiversou. Mas não conseguirá fazê-lo por muito tempo. Dilma não poderá fugir de assunto nenhum, e a pior coisa que pode acontecer é deixar um tema dessa importância no ar, vago. O conselho político deve afinar melhor o discurso sobre a questão. A oposição, nesse ponto, é unida monoliticamente: não pode haver criação de imposto e a carga tributária não pode aumentar. Eles gostam mesmo é de pedágio, que vai para iniciativa privada e para a caixinha 2 de todo mundo.
Olha o prejuízo aí, na manchete da página 9, do Globo, pescando uma frase na boca do Vacarezza, líder do PT na Câmara:
Não haverá uma reforma tributária no país? Não seria no bojo dessa reforma que seria criado um imposto específico para saúde, ao mesmo tempo em que o governo procuraria desonerar outros setores, sobretudo a folha salarial?
Eu acompanho as discussões políticas sobre o tema e por isso arrisco-me a dar algumas sugestões.
- É um grande equívoco deixar que o debate sobre a saúde pública no Brasil descambe para um bate-boca tributário. Dilma deve abordar a questão sob um ponto de vista mais humano. Digo em matéria de linguagem. Não se deve falar de maneira fria quando o assunto é saúde. Aí está o diferencial do Lula. Nessas horas, ele sempre conta uma história dolorosa, vivida por ele mesmo, e com isso criava um senso de identificação com o povo, que tanto sofre com a precariedade da saúde pública no país. Dilma não precisa imitar o presidente, mas pode ser mais sensível e imaginativa.
- A ministra poderia observar que o Brasil vai crescer fortemente esse ano, e com isso a arrecadação também aumentará muito, e que, portanto, haverá recursos para melhorar a saúde pública no Brasil. Teremos ainda o pré-sal, cuja renda possivelmente poderá ser em parte destinada para melhorar a saúde pública no país.
- Deveria prometer uma grande reforma na saúde pública no Brasil. Está na hora da Dilma ousar um pouco mais, falar mais no futuro, usar uma linguagem mais grandiosa, mais cheia de esperança. Isso não seria enganar ninguém, porque ela, de fato, fazendo um bom governo, poderia desencadear mudanças grandiosas.
- A questão da saúde está ligada às pesquisas científicas. Dilma poderia dizer que estuda um novo modelo de gestão para a saúde. Por exemplo, com a internet, é possível integrar todos os sistemas, permitindo aos hospitais e postos de todo país estarem conectados a um só banco de dados, que médicos e pesquisadores poderiam consultar em busca de informações.
- A saúde pública é, seguramente, um dos grandes desafios da humanidade. A globalização nos deixou vulneráveis a pandemias terriveis. A ficção apocalíptica cada vez mais usa teorias de vírus letais como a causa do fim da espécie humana. Países com bons sistemas públicos de saúde seguramente enfrentarão melhor esses desafios biológicos.
- Um bom sistema de saúde pública implica também em redução de vários custos. As pessoas, quando tratadas preventivamente, custam menos ao Estado.
- A petista deve lembrar sempre que a carga tributária cresceu mesmo durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Sob Lula, cresceu só um pouco. Mas cresceu. Por isso eu não defenderia o aumento da carga tributária. Isso criaria uma hostilidade enorme junto ao empresariado, que já não é simpático à Dilma.
De resto, a própria imprensa tucana admitiu que Dilma esteve exemplar nas duas entrevistas que deu nesta segunda-feira (teve uma terceira, para o Nassif, mas não foi mencionada. Nem eu vi. O som estava baixo demais) para a CBN, de manhã, e para o Ratinho, de tarde.
O Globo fez uma coisa engraçada. Tentou recriar um clima de briga entre Dilma e Miriam Leitão, provavelmente para igualá-la a Serra, que, esse sim, agiu grosseiramente. Na entrevista com Dilma, foi Miriam que agiu agressivamente, talvez como forma de provocação. Dilma respondeu com dureza, mas comedida e educadamente.
O subtítulo da matéria na página 4 do Globo é a "gafe" de Dilma:
Eu atribuo isso ao jeito infantil do Globo fazer oposição. Não acho que ninguém deixará de votar em Dilma por causa de um deslize bobinho, normal, humano. Ao contrário, é o tipo de erro que humaniza o candidato.
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Que pesquisas, Merval?
O colunista da Globo cita duas pesquisas que a TV Globo não divulgou e que o jornal impresso publicou em notinhas escondidas, desacompanhadas de qualquer gráfico. O leitor do Globo recebe informação em doses homeopáticas. A parte hilária, porém, vem a seguir.
Está revelado! Merval é o Professor Hariovaldo! Repare só na frase: "dois institutos de opinião mais tradicionais". Só faltou dizer: dois institutos controlados por "homens bons da nação". É hilário também ele dizer que o empate chega "mais tarde que o previsto pelos governistas". Desde quando, Orlando? Mentira! Tu és doido? Os "governistas" sempre afirmaram (e eu tenho acompanhado a imprensa religiosamente há meses) que esperavam um empate só em junho, quando começasse o horário eleitoral.
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Outra notícia que merece atenção é a parceria selada entre Gabeira e César Maia. Ou melhor, entre Gabeira e o DEM. Ou antes, entre Gabeira e Serra. É impressionante o engajamento de Gabeira na campanha tucana. Ele sequer parece preocupado com seus correligionários de partido. Chegou a tomar um pito recentemente da direção nacional do PV por declarar, afoitamente, que apoiará Serra, quando o seu partido tem uma candidata, Marina Silva.
Gabeira trocou uma eleição certa como deputado federal para se prestar a esse papel melancólico de "palanqueiro" de Serra. É triste porque Gabeira elegeu-se deputado federal pelo PT. Ao mesmo tempo, é um sinal dos tempos. Gabeira mudou junto com parte da esquerda festiva da zona sul carioca, onde ele tem a maior parte de seus eleitores. É a esquerda que só lê o Globo e se deixa manipular com uma facilidade que eu ainda não consegui compreender muito bem.
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Dos três jornalões (Globo, Folha e Estadão), o Estadão tem feito a cobertura mais equilibrada. Tem aqueles editoriais barrocos, medievais, escritos por um franquista trancado num mosteiro de Navarra, centro intelectual da Opus Dei. Mas pelo menos dá uma matéria como essa, uma página inteira, com gráficos, trazendo os números da pesquisa Sensus:
Cliquem na imagem. O Estadão faz a média das pesquisas dos quatro grandes institutos. Discorre sobre o tema. Analisa. Faz gráficos. Além disso, não desqualifica os institutos cujas pesquisas não lhe agradam. Como faz a Folha, sistematicamente. Hoje fez de novo. Em vez de analisar o relatório do Sensus, que é enorme e traz muitas informações interessantes para todos os brasileiros, a Folha faz insinuações confusas. Diz que o "Sensus mudou a metodologia da sondagem. Antes, o instituto questionava a avaliação que o entrevistado tinha do governo Lula antes de perguntar o candidato de sua preferência."
Ora, não era isso que a Folha criticava nos outros institutos? Que eles "esquentavam" o entrevistado? Pois bem, agora Vox Populi e Sensus usam o mesmo método do Datafolha. Assim decidiram certamente para não serem mais atacados pela Folha, embora o método que usavam constasse na literatura como normal, e também é usado pelo Ibope. Mas a Folha não explica, e a informação de que o Sensus "mudou a metodologia" soa mal. Parece algo suspeito. Mas o pior vem aí. No parágrafo seguinte, a matéria informa que: "Licenciado do cargo, o presidente da CNT (Confederação Nacional dos Transportes), Clésio Andrade (PR), disputa indicação de uma vaga ao Senado na chapa de Hélio Costa (PMDB), aliado de Dilma."
Está claro! Aliado de Dilma! Na verdade, eu até acho que essa é uma informação relevante sim. Mas a pesquisa Sensus traz uma gama imensa de dados interessantes para se entender o cenário eleitoral, como a rejeição fortíssima a Fernando Henrique Cardoso, que, a meu ver, seriam altamente publicáveis.
Sem falar nos ABUTRES do "Jornal das 10", da Globonews. Ontem, segunda, estavam impassíveis. Total insatisfação no ar. Inacreditável!
Ines Ferreira
Agora está se tornando banal, até certo ponto engraçado, vc assistir aos telejornais da Rede Globo e afiliadas Globo News. Eles são tão tendenciosos, mais tão tendenciosos que, sinceramente, eu no lugar deles ficaria constrangida. Será que essa gente encara os seus olhos nos olhos, acho que não deve baixar os olhos não devem encarar é ninguém porque dá dó. Que profissionais!
Será que eles não acreditam que vai haver uma grande virada de consciência no mundo e principalmente no Brasil, e que o papel que eles se prestam a desempenhar será altamente comprometedor para eles no futuro? Será como ser um facista ou nazista ou algo parecido. Eles não perdem por esperar.
Miguel, sobre a nova pesquisa Data Folha, gostaria que vc lesse este post:
http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com/2010/05/exclusivo-datafolha-indica-que-campanha.html
sobre umas perguntas a respeito de ditadura e terroristas que fazem parte do questionário.
No mínimo, é estranho...
UNSC considers Iran sanctions draft
http://www.alalam-news.com/english/detail.aspx?id=105009
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