24 de maio de 2010

Le Monde defende Lula à frente da ONU




Um leitor me alertou sobre editorial de hoje do Le Monde. Fui lá conferir e, realmente, o jornalão francês bota o Brasil no alto de um pedestal. É até constrangedor ouvir um elogio assim. Nós, pobres, ficamos até meio encabulados, a suspeitar que estejam nos sacaneando. Mas é isso mesmo. Um dos preços do sucesso é termos de nos acostumarmos aos elogios sem perder a objetividade.

O presidente Lula, então, esse continua sendo o herói da humanidade. Esqueçam os editoriais da imprensa brasileira, que trataram o envolvimento de Lula no imbróglio nuclear persa como o fim da lua-de-mel das elites mundiais com o ex-metalúrgico. Ao contrário, o presidente agora é incensado por sua bravura em enfrentar as grandes potências.

O texto serve, além disso, na prática, como uma peça de defesa de Lula como secretário-geral da ONU, sobretudo porque ele, e o Brasil, seriam, segundo o Le Monde, os verdadeiros líderes dos países emergentes.

Leia o editorial, traduzido por mim:

Editorial do Le Monde, dia 24 de maio de 2010

Brasil de Lula em todas as frentes

Lula aqui, Brasil pra cá! O mundo se maravilha com as declarações do presidente brasileiro e com os feitos - não somente no campo do futebol - de seus cidadãos.

Ouvimos Luiz Inácio Lula da Silva repreender a Alemanha por sua relutância em salvar a Grécia, e oferecer sua mediação no conflito israelo-palestiniano.

Vimos-no tentando resolver a questão nuclear iraniana, associado aos turcos, e apoiar os argentinos em seu conflito contra os britânicos sobre as ilhas Malvinas e o petróleo lá existente.

Mas "o homem mais popular do mundo", segundo Barack Obama, não se apóia apenas em seu carisma para falar alto e forte. Ele encarna um Brasil em plena forma que, depois de uma leve turbulência provocada pela crise, rivaliza com China e Índia em termos de crescimento.

Petrobras, o grupo de petróleo que se tornou a empresa mais lucrativa da América Latina, a Vale, líder mundial em ferro, a Embraer, fabricante de aviões que pode superar a Boeing e a Airbus antes que se espera, são apenas os botões florais de uma economia industrial de primeira ordem.

Do lado agrícola, o crescimento é igualmente impressionante, valendo ao Brasil o título de "celeiro do mundo". Soja, açúcar, etanol, café, frutas, algodão, galinhas, etc, tornam-no um competidor terrível para os agricultores europeus.

Foi somente em 2008, contudo, que o Brasil tomou consciência de suas capacidades económicas. Até então, ele negociava junto à Organização Mundial do Comércio, mas de uma forma um pouco tímida. A crise originada nos Estados Unidos e o colapso da produção industrial dos chamados países avançados, persuadiram-no que chegara a hora de partir para a ofensiva.

Agora é o Brasil, brilhantemente representado por seu ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, quem lidera os esforços para uma solução definitiva das negociações da Rodada de Doha. Em comparação, os Estados Unidos parecem mergulhados num protecionismo acanhado de uma outra era.

Menos temido que China e Índia, com seus bilhões de habitantes, melhor avaliado que a Rússia, dependente de matérias-primas, o Brasil é o verdadeiro porta-voz das economias emergentes que puxam o crescimento mundial. Com o eixo econômico do mundo se deslocando em direção ao sul, ele pôde afirmar com razão que aqueles que superam os países do Norte em vitalidade sejam melhor representados nas instâncias internacionais, a começar pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional. Sem esquecer o Conselho de Segurança da ONU, no seio do qual o Brasil aspira deter uma cadeira de membro permanente.

Parece que "o século XXI será o século dos países que não tiveram chance antes" e porque ele considera que chegou apenas "à metade de sua carreira política", Lula (65 anos) poderá apresentar sua candidatura à secretário geral da ONU em 2012. Ele deverá assim militar pelo aprimoramento do G20, cuja influência ele julga "ainda muito fraca".

Ainda ouviremos falar muito deste ex-metalúrgico, amigo das favelas e dos investidores. Ainda ouviremos falar muito deste Brasil, que apenas inicia um período de grande crescimento econômico e político.

9 comentarios

jozahfa disse...

Miguel, vai até ficar parecendo que eu tenho a pretensão de ser seu revisor (ai de mim que invejo seus conhecimentos idiomáticos, rs), mas é só um toque, pois creio que você se esqueceu de acrescentar o verbo militar à frase:

Ele deverá assim (militar) para aprimorar o G20

Eu andei os últimos 30 anos sonhando com essa ascensão brasileira. Agora fico é preocupado com como vamos bancar a mão de obra para tal crescimento. O que vejo nas salas de aula e nos gabinetes dos secretários (de educação principalmente) é desanimador. E aí está uma dimensão onde a união pode muito pouco, a não ser mudando a constituição.

Avant de toute façon!

Excelentes!

Miguel do Rosário disse...

Concordo inteiramente com você. Esperemos que as coisas melhorem com o pré-sal. Dilma tem afirmado que o mais importante é assegurar salarios dignos para os professores, o que já seria um grande passo. Vamos ver se ela consegue transformar a promessa em realidade. E esperemos que haja harmonia de interesses entre União, estados e municípios.

Miguel do Rosário disse...

Sobre a correção, já a fiz. Por favor, continue me alertando, se tiver tempo para isso. É de grande valia para mim, porque meu revisor está de greve desde que nasceu...

Calixta.costa disse...

E Viva o Brasil e nós brasileiros, o melhor povo do mundo, bem temperado com tantas misturas.

Somos alegres, somos bonitos e ainda de quebra um presidente que faz os grandes nos respeitar.

Aprendí com meus pais que quem abaixa é só a B...

que aparece.

Cabeça erguida é tudo.

JEAN CARLOS disse...

Sem ufanismo embreagante ou pessimismo injustificável,sinto orgulho, ainda mais, de ser brasileiro após ler este editorial do ''le monde''.Podemos, sim, ser potencia.E seremos futuramente,esquecendo aquela pecha de ''gigante adormecido''.Temos riquezas vegetais,minerais e humanas suficientes para alcançarmos esse futuro. Temos um presidente que , acima de tudo,nos orgulha pelo seu patriotismo, competência e visão ampla das necessidades deste país.

Roberto São Paulo SP disse...

Até assusta de verdade ler isso.
Parece que foi um acionista da Dassault que escreveu isso. rsrsr
A sério, como é LINDO ver o Brasil ter suas imensas potencialidades reconhecidas lá fora.
Enquanto isso a canhestra classe média que se educou aprendendo a desprezar o próprio país se encontra mais perdida que cego em tiroteio.

Ou se alimentando de ratos que vivem no esgoto às margens de certo rio de São Paulo...

PS. Pensa em traduzir as matérias do Guardian sobre a nojenta ligação de Israel e os racistas da África do Sul?

Juliano Guilherme disse...

O pig vai exigir que a oposição entre no TSE contra o Le Monde! A "cumpanheirada" aparelhou até o tradicional jornal francês! Jabor, nos dê uma luz, meu filho

Rui Martins disse...

Petição MIL: Lula da Silva a Secretário-Geral da ONU
http://www.gopetition.com/online/36394.html

antonio disse...

Não poderia também deixar de postar a minha opinião sobre o assunto. O Brasil, país de imensas mazelas sociais, onde a questão da distribuição da riqueza é apenas um retrato na parede, onde a saúde pública é uma vergonha...é o mesmo país que consegue todos esses destaques internacionais, que só não enchem de orgulho aquele brasileiro que é ignorante ou preconceituoso. Faço essas colocações, para destacar que os méritos pelos feitos realizados até agora pertencem ao Lula e a diplomacia brasileira, porque o povo...coitado...não faz idéia, mesmo que longínqüa da importância disso. Por essa razão, vamos ficar orgulhosos, mas vamos ser realistas também. O Brasil precisa melhorar em educação e saúde principalmente para termos também um povo mais consciente dos valores de sua nação. Caso contrario serão vitórias que se desfarão com a primeira ventania, e nem mesmo nas escolas essas histórias serão contadas.

Postar um comentário