O jogo complicou-se na reta final. Os institutos detectaram migração de votos de Dilma para Marina e redução significativa da diferença entre os votos na petista e a soma de seus adversários. Ou seja, aumentaram as chances de um segundo turno.
A minha análise é que houve uma superexposição de Dilma. Ela tornou-se, finalmente, uma figura conhecida nacionalmente, e chegou perto de 60% dos votos válidos. Agora está refluindo (embora marginalmente), com eleitores optando por Marina, Plínio e, em menor escala, Serra. Essas migrações, porém, além de ser mínimas e dentro da margem de erro, são voláteis, e podem reverter-se. As pesquisas indicam que Dilma tem o percentual mais alto de eleitores que afirmam não mudar seu voto. Ela tem uma base firme.
Mas o eleitorado é imprevisível e rebelde. Diante dos números estratosféricos, quase consensuais, que cercaram Dilma por semanas, com jornais, blogs e portais afirmando diariamente que a vitória dela num primeiro turno estaria já garantida, criou-se um cansaço, um protesto silencioso contra o "fato consumado".
O tensionamento entre a candidatura Dilma e a grande mídia gerou, por sua vez, uma situação que pressionou as forças políticas pró-Dilma de tal maneira que as obrigaram a um posicionamento antimídia extremamente duro, que talvez tenha custado alguns pontos percentuais e talvez mesmo a possibilidade da vitória no primeiro turno. Foi uma espécie de sacrifício, mas necessário, pois desta vez não se pretende apenas ganhar as eleições. A ambição da esquerda é maior. É derrotar a mídia. Isso, convenhamos, é bem mais difícil do que derrotar Serra, um xaropão cuja inteligência tem sido seriamente questionada nessa disputa.
Derrotar Serra no primeiro turno parecia relativamente fácil. Vencer a mídia, por sua vez, é uma tarefa bem mais complexa. Mas a esquerda, mesmo a custa de uma vitória no primeiro turno, precisava ir até o fim. Até porque é uma luta antiga. Vemos hoje uma segunda edição do que aconteceu em 1964. A mídia procura vender seus candidatos não através da promoção de suas propostas, e sim pela descaracterização moral do adversário, pintado como antidemocrático e sem ética. A afirmação é repetida sistematicamente, e simultaneamente desencadeia-se uma série interminável de denúncias, as verdadeiras legitimando as falsas, as falsas ampliando o impacto das verdadeiras.
Tenho um amigo que eu considerava um eleitor certo de Dilma, em quem ele havia já declarado voto. Outro dia, conversando com ele, disse-me que votaria em Plinio... e, acrescentou, tranquilamente, em Dilma no segundo turno. Por outro lado, pareceu-me que ele se decidiu por Plínio justamente pela força descomunal exibida por Dilma Rousseff, que lhe deu confiança de poder "forçar" um pouco o voto à esquerda, votando no Psol.
A migração de votos para Marina, por sua vez, eu explico principalmente como resultado da exibição de uma entrevista de 7 minutos com Rubnei Quicoli, ex-presidiário, no Jornal Nacional, fazendo uma série de acusações gravíssimas (e escalafobéticas) contra a Casa Civil, e a subsequente queda da ministra Erenice Guerra, que produziu um grande impacto na opinião pública.
Tudo bem que o Datafolha fez uma coisa ridícula, como incluir a pergunta sobre Erenice no questionário de intenção de voto, transformando a entrevista numa verdadeira tortura psicológica para o eleitor de Dilma, que teve de enfrentar perguntas constrangedoras baseadas em denúncias sobre as quais ainda faltam os devidos esclarecimentos. Quero dizer, Erenice pode ter incorrido em nepotismo (o que não era crime antes do ano passado), mas não tráfico de influência. Seu filho pode ter cometido tráfico de influência, mas não na escala que tentou se alardear. Não se sabe ainda. A atmosfera incendiada do processo eleitoral obnubila qualquer observação isenta. Mesmo assim, mesmo desconfiando do Datafolha, que nesta eleição tem histórico de manipulação, é evidente que houve impacto. O Datafolha, desta vez, tem um pretexto concreto como argumento para a queda das intenções de voto em Dilma Rousseff.
A blogosfera às vezes se esquece que apenas uma minoria lê blogs políticos de esquerda. Já as denúncias exibidas no Jornal Nacional atingem a totalidade da população brasileira. As posições da blogosfera se expandem lentamente, ao longo de dias, semanas, meses, ou mesmo anos. Um factóide bombástico no JN provoca estragos imediatos. A pessoa termina de assistir e já mudou de opinião.
Entretanto, pode dar-se um efeito sanfona. O eleitorado, sobretudo aquele que migrou para Marina ou Plinio, vendo a possibilidade de que Serra vá para o segundo turno, pode considerar isso uma ameaça suficientemente grave para justificar outra mudança de última hora: e regressar para Dilma. O grande trunfo dela, afinal, além do apoio do presidente Lula, que mantém uma popularidade de 80% (não esqueçam desse detalhe!), é a rejeição enorme de um terço do eleitorado em relação a Serra. O tucano sabe disso e não por outra razão decidiu adotar um estilo mais pacato nessa reta final.
28 de setembro de 2010
Segundo turno?
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Miguel
excelente reflexão, eu também já ando meio sético quanto a vitótia no primeiro turno. Do jeito que andam os ânimnos tudo pode acontecer. só no dia 3 a partir das 17 horas, para sabermos o que na vedade nos dirá as urnas,
em frente meu caro
grande abraço
artur gomes
UJS realiza manifesto contra o PIG no Rio
http://www.youtube.com/watch?v=ueHgSsAmhQY
carta ao povo brasileiro
Leia aqui http://goytacity.blogspot.com
o amor é a coisa mais torta
que mora lá dentro de mim
teu céu da boca e a porta
onde o poema não tem fim
artur gomes
http://blogdabocadoinferno.blogspot.com
Desculpem-me os céticos, mas o DataFalha não é base suficiente para tirar conclusões desse tipo. Pelo retrospecto, deveriam ser mais céticos em relação ao DataFalha. O Paulo Henrique Amorim é um bom antídoto para isso (http://www.conversaafiada.com.br/pig/2010/09/28/o-golpe-capitulo-995-como-o-jn-vai-usar-o-datafalha/; ver também a aposta do Celso de Barros: http://napraticaateoriaeoutra.org/). O que o pessoal da direitona mais quer é que nós acreditemos no DataFalha e nos conformemos antes da hora com o segundo turno. Nada disso, vamos acreditar na vitória já no primeiro e intensificar a militância em cima dos indecisos.
Prezado Nélio, não acho que seja uma questão de acreditar ou não. Não falamos de fé, não por enquanto. Eu tenho fé que Dilma vai ganhar, mas seria temerário dizer o mesmo sobre ganhar no primeiro turno.
Datafolha, Ibope e Vox Populi indicaram queda na diferença entre Dilma e seus adversários. Não apenas Datafolha. Segundo turno não é o fim do mundo. O importante é ganhar a eleição. Lula ganhou duas vezes no segundo turno e foram vitórias acachapantes. Se for no segundo turno, é melhor.
Miguel, a ida dessa eleição para o segundo turno pode não ser necessariamente ruim a longo prazo.
Como aconteceu em 2006, é seguramente melhor uma vitória substantiva no segundo turno que uma vitória por 100 ou 200 mil votos no primeiro turno, o que abriria o caminho para longas contestações judiciais e colocaria a direita definitivamente na rota do golpe de estado antes mesmo da posse da Dilma.
Na minha opinião, ou se ganha bem no primeiro turno (coisa de 55% dos votos válidos para cima, o que pode ser difícil de conseguir no quadro atual) ou é melhor preparar o estômago para enfrentar um segundo turno asqueroso com o Serra e tentarmos ganhar, de novo na base dos 65% X 35%. De preferência, com a velha militância tomando de volta as ruas.
O "fogo de barragem" da mídia no último mês pode ter conseguido evitar o que é o maior pesadelo da direitona: uma vitória folgada da Dilma no 1º turno associada a uma eleição em SP escorrendo para o 2º turno, com Dilma e Lula livres para investir pesado contra a cidadela tucana.
Ainda acredito que é possível resolver no primeiro turno com uma folga razoável (52 a 53% dos válidos). Mas essa exigência inédita dos dois documentos colocou um fator imponderável nessa equação. Creio que agora só nos resta torcer por um bom debate na Globo e aguardar.
Meu caro Miguel! Na verdade, com "acreditar" eu não me referia às pesquisas. Sei que não são objeto de fé, mas resultado de futurologia em bases científicas (descontando imponderáveis e imprevistos, claro!). Também estou tranquilo quanto a um possível segundo turno. Faz parte do processo, é a coisa mais normal. Mas não acredito que ele acrescente algo estando as coisas como estão. Teremos um mês a mais de baixarias de um lado e tentativas de apresentar propostas de outro. Então, se for possível liquidar a fatura no primeiro turno, tanto melhor. Desanimar dessa possibilidade agora não é necessário. Eu sei, acompanho o seu blog, que você já está se preparando psicologicamente para um segundo turno. Mas o segundo turno seria o normal, não? É preciso fortalecer-se psicologicamente (tá bom, não vou usar o termo "acreditar") para uma vitória no primeiro turno.
Na verdade isso era esperado, ainda mais com o bombardeio midiático contra Dilma, Lula e o PT. E com a aposta da mídia na Marina como forma de levar Serra para o segundo turno, já que não tem competência pra ir sozinho. A questão é: Marina apoiará quem? Normalmente a resposta automática seria Dilma. Mas do jeito que tá, não duvidaria se o PV entrasse de vez na barca do PSDB... Ou ficará em cima do muro, como lhe é peculiar?
Eu acho que o PV não terá condições políticas de apoiar Serra, por causa do favoritismo avassalador de Dilma e sobretudo por causa do criticismo do neo-eleitorado de Marina, muito mais identificado com Dilma do que com Serra. Ela deverá ficar neutra (ou talvez apoiar Dilma) e creio que a maioria do PV vai de Dilma.
Esperemos. Resta saber o que dirá Gabeira... Sem desânimo, povo, pois, apesar de toda essa falcatrua desse poder avassalador da grande mídia, os níveis ainda são altos e concordo que uma vitória acachapante no segundo turno também será uma boa para a governabilidade e credibilidade.
Miguel, prefiro aguardar outras pesquisas. O Datafolha, pelas manipulações anteriores e pela sua ligação com a imprensa oposicionista, não merece credibilidade.
Estamos preparados para vencer em primeiro ou segundo turno.
Não acredito nessa coisa da Dilma está caindo. Tem algo muito estranhho nisso. De repente, na semanda da eleição, estão falando em segundo turno com uma pesquisa suspeitíssima do DataFolha. Não podemos embarcar nessa. Temos que trabalhar com o que temos. Os tracking estão mostrando o contrário. O instituto de pesquisa da Folha é suspeito, todos sabemos. Eles ficaram negando a subida da Dilma durante meses.
Como é que ninguém desconfia de uma pesquisa feita em "pontos de grande movimento" no sábado? Já teve alguma outra assim?
Sou servidor federal, para evitar problemas vou omitir meu nome e Estado onde trabalho.
Dias atrás uma operação da PF pôs atrás das grandes servidores do INSS que cometiam irregularidades, nem o gerente escapou do xilindró.
Pois bem, ouvi uma conversinha entre procuradores esta frase "na época da direita não havia isso [prisão deste tipo] temos que derrubar o Lula.
Por aí se vê as reais intencões da direita reconquistar o poder.
Um detalhe: a imprensa nacional nem noticiou esta operação da PF, realizada a partir de investigações do serviço de inteligência, que existem nos Órgãos Federais para combater a corrupção
Uma pena que muitos brasileiros, talvez por não se informarem em blogs como este, mas no PIG, repitam o discurso do PIG que e, que nem papagaios de jornal, saem espalhandos inverdade por aí, tipo "a Vale melhor depois que foi privatizada, foi bom FHC ter privatizado a Telebras", quando o próprio Bresser, um dos ideólogos do PSDB, dias atrás, num artigo na Folha, critou FHC por ter vendido a galinha dos ovos de ouro, ou seja, a Telebrás.
A verdade é que não podemos permitir que a direita tome de assalto este País. Eles estão de olho nas resevas internacionais, no pre-sal, a velha mídia está com muita sede no pote.
Eles não passarão.
Após vários meses de uma campanha,que da nossa parte tem sido uma campanha limpa e com propostas,ao contrário de nossos adversários que usaram e usam dos métodos mais baixos e sujos,justamente por não terem propostas para fazer o Brasil continuar mudando e avançando,se valendo do PIG para obter um discurso e difundir suas mentiras omitindo quem na verdade são,se valendo da falta de imparcialidade da justiça eleitoral,se valendo das mentiras e promessas inatingíveis,é chegada a hora do povo brasileiro manter o rumo traçado por LULA,que tem em DILMA sua legítima herdeira
Neste momento de definição não podemos deixar nenhum ataque,tema,assunto,mentiras,sem o devido debate.
Mostrar ao povo que DILMA não só é a continuidade do governo LULA,como também a possibilidade concreta de avançarmos mais.
A vida do povo brasileiro melhorou muito nos últimos 8 anos,empregos,salários,28 milhões de brasileiros saíram da pobreza,36 milhões entraram para a classe média,a agricultura familiar em expansão,12 milhões de brasileiros saíram da escuridão com o luz para todos,o Brasil é respeitado internacionalmete,a industria está em amplo crescimento,o desemprego atinge suas menores taxas,minha casa minha vida, temos a 2ª empresa petrolífera do mundo,a Petrobras, que nossos adversários queriam entregar aos poderosos do mundo ,hoje ela é nossa, ou seja,argumentos não nos faltam,por isso nessa reta final temos que nos desdobrar para eleger DILMA já no primeiro turno,pois a direita não está morta,suas mentiras,seus golpes baixos estão por toda parte,nos jornais,revistas,nas TVs,na internet, no boca a boca,tentando difundir o medo.
VAMOS A LUTA QUE A VITÓRIA SERÁ DO POVO BRASILEIRO E DO BRASIL.
Falando em golpe de 64 se Marx estiver correto, a primeira vez é como tragédia e quando a história se repete é como farsa. A falta de noção da direita me leva a concluir que Grande Pai de todos os barbudos da esquerda é a voz da razão.
NO DIA 03 DE OUTUBRO
A ESPERANÇA VENCERÁ O MEDO
O AMOR VENCERÁ O ÓDIO
A VERDADE VENCERÁ A MENTIRA
SÓ DEPENDE DE NÓS
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