- As províncias persas caem uma a uma em mãos dos gregos. Esse artigo de Altamiro Borges me fez pensar... que o centro da batalha deslocou-se para Sardes, capital do Império.
- O blog Tijolaço sem medo, atacando Serra de frente.
- O Conversa Afiada, mais engraçado e letal que nunca.
De minha parte, voltei a ser acometido por uma crise de irresponsabilidade política, que somente a leitura de Absalom! Absalom!, um romance incendiário, sutil, brutal, de William Faulkner, poderia me causar nesse momento. Como se eu estivesse hipnotizado de alegria pelas chamas que devastam a Berlim nazista. Minha loucura, todavia, tem uma estratégia. E Berlim fica na Barão de Limeira, São Paulo.
Lembro que um amigo qualificava a vitória de Lula em 2006 como um corte epistemológico, ou seja, um divisor de águas na maneira de pensar a política nacional, botando a mídia em seu devido lugar. Mas não. O corte será mesmo agora, em 2010. Porque eles atribuíram a vitória de Lula em 2006 e sua posterior popularidade a razões puramente subjetivas. O povo gosta de Lula, explicam, porque ele é legal, engraçado e inteligente. Mas a linha ideológica do governo, continuam, permanece errada.
Afinal não se joga, nesta eleição, apenas com o destino do Brasil, mas sobretudo com o futuro das Américas. A eleição de Dilma Rousseff pode desencadear uma nova sequência de vitórias dos partidos de esquerda latino-americanos, que tem sido violentamente atacados, de forma estrategicamente coordenada, por grupos midiáticos com estreito contato entre si. A luta ideológica na América Latina não vai bem. As mídias conseguiram produzir uma nova onda conservadora (a segunda, em vinte anos; a primeira veio nos anos 90; essa de agora, ainda no início, quiçá oxalá não vingue). Assim como os tiranos sanguinários da Itália pré-renascentista contratavam artistas e intelectuais para legitimarem um poder que haviam usurpado, na maioria das vezes, mediante traições e artimanhas deploráveis, os grupos midiáticos de hoje contratam, a peso de ouro, os rostos mais bonitos e os cérebros mais ágeis para vender suas idéias. Blogueiros acima do peso e intelectualmente ordinários como eu estão - por enquanto - a salvo.
Eles operam uma verdadeira alquimia semântica. O governo democrático, cujo poder emana do sufrágio universal e, portanto, da vontade do povo, é pintado como símbolo do despotismo - enquanto grupos midiáticos que floresceram à sombra da injustiça social e do totalitarismo político se autodescrevem como paladinos da liberdade e da democracia.
Somente uma nova sequência de vitórias no continente terá o poder de deter esse processo, através do qual este novo Leviatã ganha cada vez mais força e desenvoltura. Dentre estas, a de Dilma Rousseff seguramente é a mais importante. Suspeito que pode inclusive influenciar, de uma maneira que explico adiante, a escalada feroz do conservadorismo norte-americano.
Em 2012 haverá novas eleições nos EUA. Obama não vai bem nas pesquisas, os grupos conservadores tem se organizado de maneira exemplar para combatê-lo no campo ideológico. O que poderá salvar os EUA de cair nas mãos de uma direita bélica e furiosa, que não hesitaria em cometer uma loucura tal como atacar o Irã e possivelmente até mesmo a China?
Talvez um movimento coordenado por essa nova massa crítica, formada e instruída nas lides políticas da internet, essa hidra com milhares de cabeças, e que será enriquecida em breve (esse é o ponto-chave) por milhões de jovens que governos de esquerda tiraram da miséria - talvez esse movimento possa produzir material político, cultural e ideológico não apenas para derrubar o monstro midiático do continente, como também ajudar a esquerda norte-americana a convencer seus compatriotas a não votarem num belicista destrambelhado, a se desligarem, enfim, de seu nacionalismo tacanho e autodestrutivo e se unirem ao conjunto da humanidade. Isso sim poderia criar um novo Renascimento.
A internet globalizou a política e um blogueiro de Mato-Grosso (ou da rua do Resende) poderá lançar granadas ideológicas em Washington. Por isso é tão importante ampliar e baratear a banda larga.
O objetivo continua sendo, portanto, fortalecer o Mercosul, a Unasul, democratizar e fortalecer a ONU, e implantar um socialismo democrático e moderno em todo planeta. Desculpe se pareço grandioso, óbvio ou exagerado. Nem era para eu estar tão otimista, visto que não arrumei dinheiro sequer para ir a São Paulo, encontrar meus colegas. Estarei em São Paulo. Volto ao Faulkner.