17 de agosto de 2010

Serra diz que não é daqueles que dizem, mas diz

Vamos falar um pouco de nosso adversário, José Serra. Confesso que desenvolvi, ultimamente, um carinho especial por ele, sobretudo em função da sua capacidade de me trazer tanta diversão e entretenimento. Por exemplo, hoje o tucano saiu-me com uma declaração engraçadíssima, embora truculenta e baixo nível:

- Eu não sou daqueles que diz que o Congresso Nacional tem 300 vigaristas ou picaretas. Teve alguém que disse isso. Hoje estão todos com a outra candidata - atacou.

Um comentarista do Nassif foi rápido no gatilho e já deu uma gozada no tucano. Não resisto a pegar uma carona. Vejam só. Serra, sem poder falar o nome de Lula, agora se pronuncia através de referências subliminares. Quem foi que disse que o Congresso tem 300 picaretas? Quem é a candidata? O eleitor mais humilde deve contemplar o candidato Serra com um olhar estupefato e curioso, como se olhasse um animal exótico. Ele só fala em código que agradam seus próprios correligionários ou irritam os que apoiam Dilma. Imagino que os milhares de parlamentares, prefeitos, governadores, que estão ao lado da ministra devem escutar com absoluto desprezo esse tipo de manifestação. É como o latido rouco e cansado de um pitbull sem dentes.

Serra afirma que não é daqueles que dizem. Mas diz. A estrutura frasal, sei lá porque, lembrou-me aquela canção: "se acaso me procurares, sou daquelas mulheres, que só dizem sim", conduzindo-me a este delicioso vídeo da Vanusa cantando Chico. Tô falando que o Serra me diverte.




A incoerência semântica da declaração, dizendo que não é daqueles que dizem tal coisa e logo a seguir afirmando a mesma coisa, já foi apontada pelo comentarista do Nassif. Parece o cara que fala para um desafeto no bar:

Cara, se eu pudesse eu te xingava de filho da puta!

Enquanto isso, em algum lugar em Pernambuco... tucanos se bicam, mau humorados, revelando desarticulação e egoísmo.

O que se vê na campanha serrista é nitidamente falta de liderança. Quando afirmou que não sobe na garupa de ninguém, o tucano foi preciso. Ele está a pé. E seu exército já está debandando. As tropas de Napoleão retornam, confusas e famintas, das estepes geladas da Rússia, mas não há Napoleão, e sim um homem sem fé, sem elegância, sem heroísmo, e que, ao contrário do lendário general, não simboliza nada, ou nada de positivo. Nada de nacionalismo, grandeza, autoestima, ascensão social. Serra representa os que se sentem incomodados com o relevo do Brasil nos fóruns internacionais. Representa as camadas sociais assustadas com o povão invadindo aeroportos, shoppings, locais turísticos, concursos públicos. O tucano encarna, portanto, um anti-napoleão, uma reação puramente aristocrática e mesquinha.

*

Sente o coice que Serra tomou da Associação de Delegados de SP.

1 comentário

Zeca Junior disse...

Miguel, você já ouviu o jingle do Serra? Depois do Zeca Pagodinho, aí está o Zeca Pedaginho.

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