A sarna, no caso, é minha, que a procurei deliberadamente ao publicar um artigo em que defendia a blogueira Yoani Sanchez. Fui motivado por uma entrevista que, supostamente, desmascarava a moça. Achei o contrário. Que o repórter a agrediu vergonhosamente, ao pedir que ela mostrasse fotos que provavam que fora espancada. A própria dissera que os tais eram "profissionais" de tortura, insinuando, com isso, que sabiam como não deixar marcas.
Hoje, me deparo com um anúncio ocupando meia página inteira do jornal, com a foto da blogueira no meio, chupando a boca, e o logo da Associação Nacional de Jornais.
Não me surpreendi. A foto aliás reforça a minha argumentação. A esquerda não deve atacar a moça, sob o risco de torná-la uma celebridade ainda mais destacada do que já é. E qualquer ação do governo cubano contra a moça voltar-se-á contra o próprio.
No post em que argumento em favor dela, vários alegaram que ela recebe ajuda da extremadireita e defende a prisão dos tais cinco cubanos.
Preciso esclarecer, portanto, alguns pontos:
1) A garota pode ser defendida até por neonazistas. Isso não quer dizer nada. Lembro que, na época em que fazia meu jornalzinho anarquista na faculdade, recebi uma carta de apoio de um grupo de integralistas da zona norte (!). Não sou do time da Yoani. Não gosto do uso que fazem dela. Admiro-a, contudo, por sua coragem. Se ela é uma espiã ou recebe dinheiro da CIA, isso a torna ainda mais corajosa (embora vil e traidora), pois nesse caso o governo cubano teria o direito constitucional de fuzilá-la, já que espiões, em qualquer lugar com pena de morte do mundo (sobretudo nos EUA), são executados impiedosamente. Mesmo assim, acho que a entrevista não desmascarou nada e achei o repórter extremamente agressivo e mau educado ao insistir que ela mostrasse ao mundo fotos íntimas.
2) Ele estava ali como repórter, e não como debatedor. Se estivesse como debatedor, o certo era haver um mediador e que o debate fosse registrado e divulgado na íntegra. A moça acusou o entrevistador de editar suas perguntas, que se tornaram imensas e ultrainformadas, e suas respostas, que se tornaram monossilábicas. Como o repórter manteve, até agora, um silêncio quase hostil a essa acusação, atenho-me ao que ela disse.
3) Não posso aprovar, sobretudo, uma campanha orquestrada por grupos organizados da esquerda para condenar moralmente uma blogueira. Na blogosfera conheço gente infinitamente mais desprezível do que esta moça, que foi alçada tão alto por estar no lugar certo (ou errado), na hora certa (ou errada).
4) A condenação às idéias da moça devem ser feitas às idéias da moça e não à moça.
5) O problema da censura à informação é um problema real em Cuba, ao qual a esquerda não pode se esquivar. Eu defendo o pacote Cuba completo, com seus defeitos e tudo, mas tenho de reconhecê-los. É um problema gravíssimo, que deve ser admitido e contornado por todos que admiram as vitórias e conquistas do regime cubano. Com certeza, esse problema está imbrincado com a guerra mortal que os grandes meios de comunicação do continente sempre fizeram a governos progressistas e movimentos populares. Há que se entender melhor isso, com muita inteligência.
6) Sou um blogueiro. Defendo os blogueiros em todo mundo, portanto, da ultraesquerda à ultradireita. Compreendo que há situações complexas, mas eu não me perdoaria se não mantivesse essa coerência comigo mesmo.
7) O governo cubano poderia criar um blog, ou estimular a criação de um, chamado Respondendo a Yoani Sanchez, em que o autor se esforçaria para contextualizar e desconstruir (se fosse o caso) as argumentações de Yoani. É assim que, a meu ver, as batalhas devem ser travadas, com equanimidade. Quem quer responder a Yoani, que trave a batalha de igual para igual. Não acho justo se valer da condição de "professor da Sorbonne". Na internet, todos somos iguais. O que vale é o que escrevemos. A qualidade do que escrevemos.
8) De qualquer forma, há muita paranóia envolvendo essa questão de CIA ou ultradireita americana. Lembro que durante muito tempo se dizia que Heminghway foi espião da CIA em Cuba. Sempre estranhei essa história, até que um dia, lendo um texto melhorzinho sobre o caso, compreendi o que era. O escritor americano, efetivamente, fora espião da CIA, mas na época da II Guerra, quando, frequentando altas rodas cubanas, poderia descobrir quem era nazista ou não, e denunciá-los ao serviço secreto americano. Quanto à revolução de 59, Heminghway festejou-a entusiasticamente, porque sabia que representava a libertação de uma tirania corrupta e cruel.
3 de maio de 2010
+ Sarna para se coçar (ainda sobre Yoani Sanchez)
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Tão inocente, a garota!... Tão boazinha, a moça!... Tão legal, a menina!... Seu blog era hospedado num site da extrema-direita alemã até surgir a denúncia. Aí ela mudou. Certamente não sabia...
Vamos defender todos os blogueiros! Os blogueiros racistas! Os blogueiros nazistas! Os blogueiros sociopatas! Os blogueiros pedófilos. Se é blogueiro, é meu irmão.
Ah, Miguel, o #7 ja existe... mais ou menos, quer dizer.
Um abraço
Miguel do Rosário: o mundo é bacana, todos podem ser felizes, vamos falar de flores, cabe todo mundo no seu coração...
Sabia que era sarna para se coçar. Não falei que defendia os blogueiros criminosos, Joel, não exagera, e sim o direito de haver pluralidade ideológica da direita à esquerda.
Joel, apesar de sua forma irônica e que não tem nada a ver com o que Miguel defende no campo da idéias ou da organização da blogosfera, a sua colocação me fez vir à mente a idéia de que a Altercom, entidade criada para organizar os blogueiros, poderia congregar várias vertentes de atuação, na blogosfera, por núcleos mas, claro, excluindo alguns tipo blogueiros pedófilos, nazistas,,pelo simpels fato de que a existência disso é crime.
Mas de rocha, poderiamos ter sob o manto da altercom, os seguintes núcleos:
Nucleo de Blogueiros ABGLT
Núcleo de Blogueiros Anarquistas
Núcleo de Blogueiros Seguidores de Adam Smitd
Núcleo Chico Mendes (para os blogueiros ecologistas)
Daria uma boa salada que, com certeza, por causa de idéias contrárias, resultaria em bons frutos
Da próxima vez que comentar aqui, vou por o sinal de ironia....
Antes disso vou procurar a "ultradireita" que não é criminosa. Essa que o blogueiro acha tão legal. Espera um pouco. Deixa ver. Estou procurando. Ainda não achei...
O problema é que a dita blogueira não faz denúncias contra o governo revolucionário, faz campanha pró Estados Unidos e não faz questão de lançar mão de mentiras e, acredito eu, ninguém tem o direito de mentir, mesmo que acredite ser por um motivo nobre.
Joel, eu sei que você está sendo irônico, mesmo assim faço questão de afirmar que eu não acho os blogs de ultradireita "legais". Ao contrário, eu os combato, incansavelmente, há muitos anos. Quero dobrar seus chifres com as próprias mãos, porém, sem covardia. Sem apelar para qualquer agressão física, que é o que eu critiquei aqui.
A moça é uma gracinha. Me sinto também, inclinado a gostar da dita cuja. Entretanto, não posso ceder a meus resquícios machistas. Isto posto, gostaria que o amigo me ajudasse para separar uma da outra, do que você chama:..."A condenação às idéias da moça devem ser feitas às idéias da moça e não à moça."
Como fazer?
Abraços. Orlando
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